Plantio direto será realidade em dois anos, apontam pesquisas
Técnica já consolidada na produção de grãos, o plantio direto pode migrar para as lavouras de mandioca. As pesquisas neste sentido estão bastante adiantadas e espera-se que em dois anos aproximadamente esta tecnologia comece a ser repassada aos mandiocultores.
A estimativa é do engenheiro agrônomo Marcos Antonio Rangel, da Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), em Cruz das Almas (BA), onde está o centro nacional de pesquisa em mandioca. O pesquisador fica baseado em Londrina, de onde coordena os experimentos em São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul e eventualmente Rio Grande do Sul.
As pesquisas apontam algumas vantagens em relação ao plantio convencional, como menor custo de produção, pois não haverá necessidade de preparação do solo, a ampliação do período de plantio, porque a técnica retém a umidade no solo por mais tempo e, sobretudo, uma proteção do solo contra a erosão.
“E trabalhamos ainda com a expectativa de aumento da produção. Alguns experimentos já apontam nesta direção, de termos produtividade maior”, diz Rangel, que esta semana esteve em Paranavaí acompanhando e orientando plantio direto de mandioca em mais uma área experimental.
FRUSTRAÇÃO NO PASSADO – Rangel aponta que já existem vários experimentos na região. Em algumas propriedades, o plantio direto ocupa áreas de 10 e 20 alqueires. Embora no passado alguns produtores tenham se frustrado com a tecnologia, Rangel diz que hoje quem faz a opção pelo plantio direto acaba adotando-o.
Segundo ele, no passado, a frustração dos produtores da raiz foi basicamente decorrente da escolha das variedades para o plantio direto e a falta de tecnologia para o plantio. “Mas produtores que se frustraram no passado, voltaram agora ao plantio direto e estão satisfeito”, constata ele.
O pesquisador da Embrapa afirma que ainda não é possível fazer uma recomendação técnica pelo plantio direto.
“A fase ainda é de pesquisa. Uma situação pode ser diferente da outra e por isso, por enquanto, não há uma receita geral. Ainda depende da cobertura e das condições físicas do solo. Avaliar qual herbicida usar em cada situação. E até da paciência do produtor para verificar qual variedade se adapta melhor. Mas quem está fazendo o plantio direto está tendo bons resultados”.
Rangel sublinha que mesmo na produção de grãos houve um período de maturação da nova tecnologia. “É uma tecnologia em desenvolvimento que ainda será transferida para o produtor. Mas tem produtor fazendo o plantio em escalas razoáveis, em 10, 20 alqueires. Quem entra no plantio direto não sai mais”, atesta.
PLANTADEIRA – De acordo com o agrônomo, ainda faltam algumas adaptações no protótipo de plantadeira, que vem sendo utilizada no plantio direto, que já foi mudada algumas vezes, aperfeiçoando a técnica. Ele explica que apareceram algumas demandas, mas que foram atendidas. “Até agora todos os problemas surgidos conseguimos resolver”, sublinha.
Um dos últimos problemas surgidos é que quando o plantio era feito em uma área onde a camada de cobertura era mais espessa havia dificuldade para a germinação. “Agora tem uma lâmina que abre a palhada no ponto onde a mandioca vai germinar”, explica.
A questão da plantadeira é outra razão para que o pesquisador ainda não recomende o plantio direto: “não existe a atual configuração da plantadeira no mercado. São apenas duas delas, que são nossos protótipos, uma delas está aqui em Paranavaí e a outra em Planaltina do Paraná.
Rangel estima que, quando estiver concluída, a plantadeira de duas linhas, a mais utilizada na região, terá um custo 50% maior. Explica que o preço da plantadeira convencional está em torno de R$ 20 mil e a de plantio direto ficará em torno de R$ 30 mil.
“Acreditamos que em dois anos, todos os estudos estarão concluídos e poderemos recomendar em definitivo o plantio direto da mandioca, principalmente para esta região”, avalia o agrônomo.
POUCO RECURSO – A pesquisa do plantio direto de mandioca começou em 2009 e ainda vai levar mais dois anos porque faltam recursos públicos para o desenvolvimento de novas tecnologias no país.
Este experimento hoje está se tornando realidade porque conta com a participação de diversos parceiros e financiamento da iniciativa privada. “Mas falta gente e isto deveria ser bancado pelo governo”, ressalta Rangel.
Entre os parceiros estão a Unioeste, campus de Marechal Cândido Rondon. “Foi lá que tudo começou. Foi lá que o que deu errado no passado começou a virar para o certo”, diz Rangel, lembrando ainda a participação do IAPAR (Instituto de Pesquisa agronômica do Paraná), o CETEM – Centro Tecnológico de Mandioca, Podium Alimentos e instituições como a ABAM (Associação Brasileira de produtores de Amido de Mandioca) e SIMP (Sindicato das Indústrias de Mandioca do Paraná). “Isto sem contar a participação de diversos produtores rurais”, afirma.
CAUSA NOBRE
O engenheiro agrônomo Marcos Antonio Rangel diz que o produtor deve ver a utilização do plantio direto na produção de mandioca como algo além de uma nova tecnologia.
“O plantio direto na lavoura de mandioca é uma causa, pois tem reflexos ambientais, sociais e econômicas”, aponta o pesquisador. Para ele, a técnica é a garantia de sustentabilidade do setor, de proteção do solo, de garantia de renda para o produtor e de emprego ao trabalhador.
E será, ainda, uma técnica para reforma de pastagens (outra importante cultura da região), que se constitui num adubo orgânico que libera os nutrientes de forma mais lenta e por conseqüência por mais tempo, beneficiando a cultura da mandioca.
Questionado se a terra compactada pelo gado nas pastagens não dificultaria o plantio, Rangel informa que isto já provocou inclusive mudanças na plantadeira que agora descompacta o solo em cerca de 10 centímetros o local do plantio.
CERTIFICAÇÃO
O sonho é agregar valor à produção com o plantio direto. Marcos Antonio Rangel acha possível a região receber, por exemplo, uma certificação ambiental, pela utilização da técnica. Com uma certificação, aposta ele, “haverá um diferencial no financiamento e no mercado de amido”.
A região de Paranavaí é a maior produtora de mandioca do Brasil para fins industriais e o Paraná o maior produtor nacional de amido. Por isso, as experiências podem provocar mudanças na região. A utilização de uma técnica ecologicamente correta e que permitirá ainda aumentar a produtividade “dará um novo conceito a região”.
A proposta de plantio direito da mandioca é tão promissora que as novas variedades que estão em desenvolvimento na Embrapa focam na nova tecnologia. “75% das pesquisas hoje é para o plantio direto”, revela Rangel, entusiasta da nova tecnologia para a mandioca.