Polícia Civil deflagra segunda fase da Operação Quadro Negro

A Polícia Civil do Paraná deflagrou na manhã de ontem a segunda fase da operação Quadro Negro, que apura supostos desvios de recursos públicos por meio de contratos com empresas para obras em escolas da rede pública. Ao todo, são 11 mandados de busca e apreensão. As buscas aconteceram em quatro estados – Paraná, Santa Catarina, São Paulo e na Bahia.
Mais de 20 policiais do Núcleo de Repressão a Crimes Econômicos (Nurce) cumpriram mandados de busca e apreensão em Curitiba, Balneário Camboriú (SC) e Salvador (BA), com o apoio das polícias daqueles estados. Não há, nesta segunda fase, mandados de prisão.
O alvo da operação são os bens da empresa Valor Construtora e Serviços Ambientais – responsável por fraudes nas obras em escolas públicas – e de Eduardo Lopes de Souza, apontado como o verdadeiro dono da companhia e também como o chefe da organização criminosa suspeita de desviar quase R$ 20 milhões.
Entre os alvos da operação estão dois imóveis – um apartamento em Balneário Camboriú, na Avenida Atlântica, avaliado em mais de R$ 5 milhões, e um flat em Salvador. Além disso, a Justiça do Paraná determinou a apreensão de nove veículos, todos de luxo, avaliados em mais de R$ 3 milhões, que teriam sido adquiridos com o dinheiro desviado das obras das escolas públicas. Entre os veículos cuja apreensão foi determinada está um Porsche Cupê 911 turbo 2015, supostamente comprado por pouco mais de R$ 1 milhão.
Os automóveis que estão em São Paulo e em Florianópolis (SC) dependem de cumprimento de mandado a ser feito por oficiais de Justiça, conforme determinação do Poder Judiciário.
O delegado-titular do Nurce, Renato Basto Figueroa, que conduz a investigação, explica que o alvo desta segunda fase da operação é assegurar a devolução dos recursos públicos desviados numa eventual condenação.
Ainda de acordo com o delegado do Nurce, os imóveis estão bloqueados pela Justiça, não sendo possível fazer transferência. A pedido de Figueroa, a Justiça autorizou ainda a quebra do sigilo bancário e fiscal de 12 pessoas e de três empresas. Além de Eduardo Lopes Souza, os alvos são ex-servidores e engenheiros da Secretaria de Estado da Educação envolvidos no esquema criminoso e funcionários da Valor.

Pela secretaria da Educação, tiveram os sigilos quebrados o ex-diretor do Departamento de Engenharia, Projetos e Orçamentos (Depo), Maurício Jandi Fanini Antonio, o ex-servidor Jaime Suniê, e o ex-diretor geral Edmundo Rodrigues da Veiga Neto – além de dois filhos de Fanini. Pela construtora, a sócia-proprietária da empresa Valor, Vanessa Domingues de Oliveira, a engenheira da empresa e irmã de Eduardo, Viviane Lopes de Souza e a ex-sócia Tatiana de Souza.
Com relação às empresas, a Justiça autorizou a quebra dos sigilos da Valor e de outras duas que teriam Fanini como sócio.
O delegado-geral da Polícia Civil, Julio Cezar dos Reis, fala sobre o trabalho da polícia de identificar o patrimônio obtido e pedir judicialmente o bloqueio dos bens. “Uma estratégia muito interessante nas investigações de desvio de dinheiro público é justamente buscar apreender os bens auferidos com tais desvios", completou.
Durante a primeira fase da operação Quadro Negro, em 21 de julho, o Nurce prendeu cinco pessoas e cumpriu nove mandados de busca e apreensão.
AUDITORIA – A Secretaria de Estado da Educação prossegue com a auditoria interna em obras de escolas estaduais. Técnicos estão vistoriando os trabalhos em diversas regiões do Estado e refazendo medições pra aferir a veracidade do andamento das construções.
As análises foram iniciadas em maio, após a própria Secretaria detectar disparidades nas medições de algumas obras e abrir investigação. Os dados levantados pela Secretaria da Educação foram encaminhados ao Tribunal de Contas do Estado, à Polícia Civil e ao Ministério Público, para que cada órgão tomasse as providências cabíveis.