Polícia “satanizou” os suspeitos, diz defesa de médica em Curitiba

CURITIBA – O advogado da médica Virgínia Helena Soares de Souza, 56, chefe da UTI do Hospital Evangélico de Curitiba (PR) e indiciada sob suspeita de provocar a morte de pacientes, disse que a polícia "satanizou" sua cliente.
A afirmação está num memorial defensivo (documento que integra a defesa da médica), que aponta supostos erros das investigações. O documento foi entregue anteontem à Justiça.
Além da médica, outros quatro médicos e uma enfermeira foram indiciados sob suspeita de homicídio qualificado e formação de quadrilha. Cinco deles, incluindo a chefe da UTI, estão presos.
Depoimentos colhidos pela polícia afirmam que os profissionais usavam, a mando de Souza, relaxantes musculares e anestésicos, somados à diminuição do oxigênio nos respiradores, para antecipar a morte de pacientes graves a fim de liberar leitos.
Todos negam as acusações e dizem que elas se devem a erros de interpretação de termos médicos. Para o advogado Elias Mattar Assad, que defende a chefe da UTI, o inquérito "considerou apenas o que disseram os conluiados, sem conhecimentos técnicos". Ele sustenta, no documento, que a polícia "mistificou o uso rotineiro de medicamentos" baseada em "velada coação de testemunhas e investigados ["fale o que quer ouvir a autoridade ou ficarás como cúmplice"]".
O advogado diz que o fluxo de dispensação de medicamentos num hospital "segue normas rígidas" e que seria impossível que a médica desse "ordens verbais" sobre eles, provocando a morte de pacientes. Assad ainda afirma que muitos dos denunciantes têm processos trabalhistas contra o Hospital Evangélico. "[Transformaram] provas testemunhais em verdades absolutas. Expuseram a classe médica e o hospital à execração pública, deflagrando uma paranoia coletiva. Enseguecidos pela insânia, não provaram o essencial: existência de fato criminoso e sua materialidade", dizem trechos do memorial.
Denúncias – O inquérito policial já dura um ano e se fundamenta essencialmente em denúncias de ex-funcionários e escutas telefônicas em que a médica afirma, entre outras coisas, que quer "desentulhar" a UTI e fala em "desligar" pacientes. Prontuários médicos que podem indicar erros na condução do tratamento estão sob análise de técnicos da polícia e do Ministério Público. O delegado-geral da Polícia Civil do Paraná, Marcus Michelotto, defendeu nesta semana o trabalho dos investigadores. "A tentativa de desacreditar o trabalho da polícia é parte da manobra da defesa", afirmou.
"Há muitos depoimentos, áudios, análise de prontuários, confissões. Para a polícia não interessa isso [buscar a imprensa]. Para nós, vale o interesse da sociedade". O relatório final das investigações foi entregue ao Ministério Público nesta semana. Os promotores têm até a próxima segunda-feira para decidirem se apresentam ou não denúncia contra os suspeitos.