Por uma nova matriz de transportes

* Dirceu Cardoso Gonçalves
É auspiciosa a notícia de que a General Motors prepara o transporte por ferrovia, hidrovia e navegação de cabotagem de seus veículos de exportação aos países vizinho. Principalmente porque, segundo a própria montadora, existem outros negócios que também poderão participar do esquema. Oxalá o projeto vingue e os nossos milhares de quilômetros de linhas férreas abandonados ou subutilizados possam voltar à ativa e, mais que isso, servir de alternativa para o transporte hoje realizado por rodovia a preços superiores ao dos outros modais e, ainda, com agravante da saturação das estradas. Que, além das ferrovias, os governos – federal e estaduais – providenciem o efetivo funcionamento das hidrovias, hoje com cronograma atrasado por falta de investimentos. Se não existem recursos púbicos a investir, que os trechos sejam leiloados à iniciativa privada e o poder público atue apenas na fiscalização, como é o aconselhável em todos os setores.
Na Europa, além do transporte massivo de passageiros, o trem é o meio ideal para a movimentação de cargas, que também seguem por hidrovia e navegação marítma, tudo integrado num sistema onde o caminhão faz apenas as pontas, levando o produto do fabricante ao terminal mais próximo e do terminal de destino ao consumidor. Chamam a atenção, por exemplo, os barcos “cegonheiros” que circulam pelos rios e canais da Bélgica transportando veículos. Coisa que poderíamos ter no Brasil sem favor algum e com os benefícios de tarifas menores.
Em vez de empregar seu dinheiro na criação de trustes nacionais e para custear obras em países que dificilmente pagarão pelos empréstimos contraídos, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) precisa ser direcionado para sustentar o desenvolvimento da economia nacional, inclusive a geração de empregos. Emprestar recursos para grupos privados que venham a arrematar lotes ferroviários, hidroviários e de navegação costeira é uma opção.
O Brasil possui hoje 27,8 mil quilômetros de ferrovia, mas apenas um terço é produtivo, a maior parte transportando minério. É o equivalente ao tempo do Império, quando as ferrovias somavam um terço da extensão atual. São muitas as narrativas sobre a derrocada do setor, mas o importante é que a política seja revertida e esse patrimônio novamente colocado a serviço do desenvolvimento do país. O quilômetro de ferrovia, para construir, custa sete vezes e meia o de rodovia. Mas sua produção em larga escala pode ser a solução aos transportes, tanto em fretes mais baratos quanto no descongestionamento da malha rodoviária, reservando-a para menores percursos, cargas rápidas e de elevado valor agregado.
O Brasil precisa reequilibrar seus modais de transporte. Não há razão para o caminhão continuar atravessando o país com uma pequena carga – de grãos, combustíveis ou até manufaturados – que poderia chegar com mais segurança e competitividade se conduzida no trem ou em barcaças. Nada contra o caminhão; apenas racionalidade no seu emprego…   

*Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves é dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo) 
aspomilpm@terra.com.br