Precisamos falar sobre a cultura do estupro
Por Camila Lemes*
O termo “cultura do estupro” se originou entre as feministas estadunidenses, na década de 1970. Surgiu com o intuito de apontar que a culpa da violência sexual não é da vítima.
Pois bem, precisamos falar sobre a cultura de estupro. Não raramente, nos deparamos com notícias de mulheres, das mais distintas faixas etárias e classes sociais, vítimas de estupro. O mais recente foi o caso da adolescente vítima de estupro coletivo. A comoção se instala, a sociedade se choca.
Contudo, ao falarmos de estupro, não podemos nos limitar aos casos que são considerados crimes pelo nosso código penal. Quando falamos em estupro, precisamos considerar uma cultura que não choca, que não é considerada crime, mas que viola o corpo da mulher. Ora de forma escancarada, ora com sutileza, nossa autonomia é tirada. Nosso corpo se torna público.
Sim, precisamos falar sobre a “cultura do estupro”. Uma cultura formada por atitudes ditas como inocentes que, ao final, validam o abuso sexual. Está na piada misógina que nos faz rir; na propaganda do produto que usa o corpo da mulher para atingir clientela; em nossa fala, quando desconsideramos a denúncia de uma agressão sob o pretexto de que ela mereceu; na cantada que você dá quando uma mulher passa.
Enfim, a cultura do estupro está enraizada em nossas interações sociais. Nos comover apenas em casos hediondos não tira o medo que uma mulher tem ao andar sozinha na rua.
Como já colocou Andrea Dworkin, “eu queria um dia de trégua, um dia de folga, um dia em que nenhum corpo novo fosse empilhado, um dia em que nenhuma agonia fosse somada à que já existe, e eu estou pedindo que vocês me deem isso. E como eu poderia pedir menos? Isso é tão pouco. E como vocês poderiam me oferecer menos? Isso é pedir tão pouco. Até em guerras há dias de trégua. Sério, vão e organizem uma trégua. Parem o lado de vocês por um dia. Eu quero uma trégua de 24 horas sem estupro”.
*Camila Lemes é integrante do Coletivo Frente Emancipada de Mulheres Empoderadas (Feme) de Paranavaí