Preços da raiz de mandioca não cobrem nem custos operacionais

SÃO PAULO – A expressiva oferta de raiz de mandioca tem pressionado com força as cotações dessa matéria-prima vendida a fecularias e farinheiras, conforme indicam pesquisas do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada), da Esalq/USP.
A receita obtida pela maioria dos produtores já não é suficiente para cobrir nem os custos operacionais. O problema é maior quando se produz em áreas arrendadas.
Segundo cálculos do Cepea, a margem pode ser positiva apenas em casos de produtividade acima de 90 toneladas/hectare e de elevado rendimento de amido, resultado que tem sido obtido apenas por parte dos produtores.
A significativa disponibilidade de mandioca ainda a ser colhida e também o cenário macroeconômico deixam produtores sem esperanças de inversão de tendência para os próximos meses. Nesse cenário, o planejamento do plantio da safra 2015/16 já está atrasado e a área a ser cultivada pode ter queda expressiva, repetindo-se o movimento cíclico já habitual da mandiocultura.
Sem governança eficiente, o setor tem vivenciado, sucessivamente, momentos de alta produção e preços baixos – que desanimam os produtores – seguidos por outros de redução da oferta e preços altos, que tendem a fomentar novamente a produção e a reduzir os preços.
Essa instabilidade da oferta dificulta o planejamento também dos setores consumidores de seus derivados, em especial da fécula, resultando em menor participação no mercado de amidos.
Em junho/15, o preço médio da raiz vendida às fecularias (considerando-se os estados do PR, SC, MS e SP) foi de R$ 146,60/tonelada (a prazo, posta na indústria), queda de 32,5% no acumulado de 2015 e de significativos 42% em relação à média de junho/14, em termos reais (valores foram deflacionados pelo IGP-DI de maio/15).
Foi, ainda, a menor média desde setembro de 2006, em temos reais. Para a raiz vendida a farinheiras, o preço de junho foi de R$ 142,46/t (a prazo, posta na indústria), baixa de 34,1% na parcial de 2015 e de 43% em 12 meses.
O aumento na produção brasileira de raiz de mandioca é o principal motivo para suas consecutivas desvalorizações, que vêm sendo verificadas desde novembro de 2014. Pesquisadores do Cepea relatam que, além da maior área disponível, muitos produtores, ao longo do primeiro semestre, tiveram de intensificar a colheita para liberar áreas arrendadas. No caso dos derivados, o mercado de fécula também é influenciado pelo enfraquecimento da economia brasileira.

FÉCULA
Nos primeiros seis meses deste ano, a produção de fécula de mandioca atingiu o maior volume para um primeiro semestre desde 2011; em relação do semestre anterior, o aumentou foi 7,8%. Já do lado da demanda, setores que utilizam o derivado da mandioca como insumo adquirem menor quantidade, visto que a produção industrial – segundo dados do IBGE – tem caído nos últimos meses. Nesse cenário, as fecularias acumulam os maiores estoques de fécula desde 2008, de acordo com levantamentos do Cepea. Em junho, o preço médio da fécula foi R$ 1.063,15/t (ou de R$ 26,58/sc de 25 kg), queda de 21,1% frente a dezembro/14 e de 28,2% em relação a junho/14, em termos reais.

FARINHA
No mercado de farinha também houve aumento na oferta, principalmente pela retomada da produção nordestina nos últimos meses. Além disso, agentes do mercado apontam que houve queda nas vendas no varejo e aumento nos estoques no segmento atacadista.  Em junho, o valor médio da farinha de mandioca fina branca crua/tipo 1 foi de R$ 42,95/sc de 50 kg (a prazo), baixa de 18,6% no acumulado do semestre e de 38% em 12 meses.