Prefeitura investe na alfabetização de haitianos com turma especial da EJA

A professora Gisele Cristine Simões Japerti conta que tem 18 alunos (apenas uma mulher na turma) haitianos e que no início precisou de um intérprete para ajudar a passar o conteúdo nas aulas. A professora explica que no Haiti eles têm vários dialetos e a língua principal é o francês.
“A maioria deles não era sequer alfabetizado, nem chegaram a frequentar escolas no Haiti. Por isso, além da língua portuguesa, começamos pegando firme na alfabetização mesmo, na questão da escrita, de conhecer as letras, formação de palavras, etc. Agora eles já estão mais adaptados ao português e têm um nível de entendimento que facilita muito o repasse dos conteúdos nas aulas”, conta a professora Gisele, responsável pela primeira turma de Séries Iniciais do Ensino Fundamental (até o 5º ano) da Educação de Jovens e Adultos (EJA) formada exclusivamente por haitianos.
A Prefeitura é a responsável pela turma de haitianos do EJA, que pertence à Escola Municipal Jayme Canet, mas funciona em uma sala cedida pelo CEEBJA (Centro Estadual de Educação Básica para Jovens e Adultos).
A estimativa é de que Paranavaí já abriga uma comunidade de mais de 400 haitianos, que vieram à cidade em busca de trabalho e melhores condições de vida.
É o caso do jovem Wilguens Oxane, de 27 anos. Ele conta que tinha o contato de um amigo que já morava em Paranavaí e buscou por uma oportunidade de trabalho. “Hoje estou empregado, estudando e vivendo bem na cidade. Com as aulas aqui na EJA já aprendi português suficiente para me desenvolver na empresa onde trabalho e ter um bom convívio com as pessoas de Paranavaí”, frisou.
“Estudar é muito importante para eles, porque eles precisam da certificação da escolarização para poder trabalhar, se comunicar, se socializar, tirar documentos, etc. Para iniciar a turma, fizemos uma avaliação com os interessados e a partir da aí alguns foram encaminhados para a turma do Ensino Médio e outros para as séries iniciais do Ensino Fundamental. Aqui eles vão concluir os estudos nas disciplinas do currículo básico (português, matemática, história, geografia e ciências) e depois podem prosseguir na EJA do Estado nas séries finais do Ensino Fundamental (a partir do 6º ano) e Ensino Médio”, complementou Marisa Piccioli.
Em geral, o objetivo da EJA é proporcionar que pessoas adultas que não tiveram a oportunidade de frequentar a escola na idade convencional, possam retomar seus estudos e recuperar o tempo perdido. “Nesta turma de haitianos, especificamente, o objetivo é alfabetização na língua portuguesa. A ideia é prepará-los para o ambiente de trabalho, para terem autonomia pra conseguirem se desenvolver profissionalmente e se socializarem na cidade”, finalizou a coordenadora da EJA no município.
Para a professora Gisele, a primeira turma é só o começo de um trabalho que promete ainda dar muitos frutos. “Já temos uma grande procura por novas turmas. São primos, cunhados, esposas, querendo aprender a língua portuguesa, se alfabetizar. É uma oportunidade que muitos deles não tiveram ainda, de frequentar a escola. Eles estão trazendo as famílias do Haiti, procurando residências para morar com as esposas (já que a maioria dos haitianos em Paranavaí é de homens), os filhos. É o início de um projeto muito especial”, concluiu.
A idade para se matricular numa turma de EJA Fase 1 (séries iniciais do Ensino Fundamental) é a partir de 15 anos. No município, existem quatro turmas em funcionamento: uma na Escola Jayme Canet, uma na Escola Pedro Real, a turma especial para haitianos do CEEBJA, e uma no SESC (que também é uma PED), específica para a Educação Especial. As três primeiras funcionam no período noturno, e a turma do SESC tem aulas no período matutino.