Primeira caravana de colonos chegou há 68 anos

Em meados de 1955 o atual município de Alto Paraná era uma das mais novas comunidades da Região setentrional do Estado do Paraná, localizado no espigão divisor das águas dos rios Ivaí e Paraná (de acordo com o IBGE, 1959).
Em 1948, ainda na floresta, foi implantado o primeiro marco de sua localização. A partir desse período ocorriam os serviços de abertura, acontecendo concomitantemente com a demarcação das quadras, datas e vias públicas. Entretanto, foi em 26 de setembro desse mesmo ano que chegou ao local a primeira caravana de colonos. Alto Paraná foi um empreendimento da Imobiliária Ypiranga, de Boralli & Held, cujos proprietários eram Lucilio de Held e Adelino Boralli. Os terrenos onde foram demarcados os primeiros alicerces da cidade de Alto Paraná compreendiam uma área de 150 mil alqueires, que fora adquirida da Companhia de Terras Norte do Paraná.
Vários foram os fatores que contribuíram para o rápido povoamento de Alto Paraná: a iniciativa particular de colonização, dividindo as terras em pequenos lotes; terras férteis e um clima considerado excelente. Todos esses fatores asseguraram a rapidez da formação da cidade.
Em meados de 1949, nada menos que quatrocentas famílias iniciaram plantações agrícolas nos arredores do núcleo urbano. A empresa Boralli & Held promoveu verdadeiro frenesi, pois conduziu, somente no primeiro ano, pelo menos dez mil pessoas à região, para isso manteve um sistema de transporte próprio, facilitando a aquisição de terras e lotes urbanos na cidade em ascensão, segundo narrava o autor da obra “O Paraná e seus municípios”, João Carlos Vicente Ferreira (Maringá: Memória Brasileira, 1996).
Em 1949, também foi instalada a primeira serraria, e com a fundação da cidade, iniciou-se a cultura dos produtos agrícolas nos seus arredores, contribuindo ainda mais para o seu desenvolvimento. Com o núcleo urbano já desenvolvido, a emancipação política era o próximo passo.
O nome do município, Alto Paraná, foi dado pela Imobiliária Ypiranga. “Alto” pela posição geográfica do município em relação ao Estado, e “Paraná”, que provém da lingua tupi ‘Para-nã’, que significa “rio grande como o mar”, e é o nome do Estado em que se localiza.
Autora de tese sobre a colonização do Noroeste do Paraná, apresentada na Universidade de São Paulo (USP) em 2007, Adélia Aparecida de Souza Haracenko, de Querência do Norte, colheu o depoimento de Ondina Zanatto, no dia 17 de abril de 2007, na Biblioteca Pública Municipal de Alto
Paraná, local em que concedeu a entrevista que retrata um pouco da história do município.
Disse Ondina que “a cidade de Alto Paraná foi fundada pela Imobiliária Ypiranga, do Boralli e Held, e nessa época eles começaram a trazer os pioneiros pra Alto Paraná, vindos muitos de São Paulo, Minas, vieram muitos do Rio Grande do Sul também, e chegavam aí de caminhões, aquelas
famílias, tudo em busca do café, aliás do desmatamento pra o plantio do café” Contava a entrevistada que então, eles faziam aquelas cabaninhas com sapé, com tabuinhas. “Eh!, diz a minha sogra sempre, que quando ela chegou aqui não tinha nada, era só mato, né, matão, e aqueles peões, chapéu grande, botas, facão na cintura, espingarda. E isso diz que colocava muito medo neles, né. Inclusive, ela quando veio, ela foi morá bem lá pra baixo, onde hoje é o antigo buracão, que eles falam, né. O buracão não é um bairro aqui da cidade, é tudo centro mesmo, sabe? Mas fica bem mais abaixo, ali. Inclusive o cemitério se localizando. O cemitério fica muito afastado do centro, por quê? Porque a planta de Alto Paraná seria o centro, lá aonde eles começaram as
construções. Então puxaram uma água, daí ela sempre me dizia (refere-se à sogra) que puxaram uma água encanada, fizeram um poço, e cada família, que já tinha bastante família, e foram puxá essa água pra todas as famílias e no que fizeram o buraco né. É isso que começou o buracão. Eu sempre achei uma história dela muito interessante, porque ela dizia assim: história do buracão. Eu dizia assim: mas como surgiu esse buracão? Então ela (a sogra) dizia
que eles não sabiam que a terra aqui era arenosa; então, no que fizeram a valeta pra passá os canos, veio uma chuva, e essa chuva, diz ela que parecia assim açúcar molhando, e foi formando esse buracão. Inclusive muitas famílias de lá tiveram que subir no espigão mais alto pra não inundá lá. Hoje está quase tudo tampado, ruas abertas né, tubulação e tudo; mais deu muita luta pra isso, né”?
Ondina contava ainda que “quanto à a grilagem de terras aqui, olha, eu não tenho em mente de ter conflito assim de grilagem não. Mais que grilagem ainda tem, tem pessoas que ainda tem e a gente escuta falá: ‘Olha, aquele terreno é grilo’, cê entendeu? Lógico que é tudo feito um trabalho, sei lá, tem o usucapião, né, tudo isso, mais daí já está tudo legalizado, entre aspas, né; mas de conflito assim, não. Todos os que vinham compravam seus terrenos, inclusive meu sogro mesmo tinha dois sítios, um que é quase divisa com Tamboara, outro lá pro lado de Sumaré. Então, já o meu pai e minha mãe quando vieram, eles vieram em 1948 pra cá, mas só que eles não vieram pra cidade, eles foram abrir o Bairro Jacareí, tá, que é a gleba Jacareí. Então ela contava que era assim: o caminhão da mudança ia entrando e eles na frente abrindo, cortando mato pro caminhão passá. Ela disse que chorou muito, muitas e muitas noites, que ela olhava assim aqueles tocos pegando fogo, né, queimando, tudo para o plantio de café”.
Ondina nasceu em Alto Paraná, “nessa Gleba Jacareí mesmo. Eu me lembro de Alto Paraná quando a praça principal ali, a Rui Barbosa, ela tinha café, e hoje, passando por Alto Paraná você vê o fórum né, ali, tem a praça mesmo ali era tudo mato, depois já começou muita gente vindo abrindo pensões e hotéis. Aqui teve época de tê o ‘boom’ do café sabe? E plantio, e plantio, e plantio de café né, que aquilo estourou, o café né. Hoje, já não se vê nem mais quase o caf”é.
Alto Paraná pertencia ao município de Mandaguari como, de resto, toda a região até o rio Ivaí. Então toda documentação, às vezes, até hoje,
“a gente escuta falar ‘ah! eu preciso lá de uma documentação, eu tenho que ir lá em Mandaguari atrás dessa documentação’, dizia Ondina. “Outra hora vai pra Nova Esperança, porque foi desmembrando né. Então era tudo muito difícil né na época, hoje tá fácil”.
Ondina Fantuzzi Zanatto conformava-se de viver na sua terra natal: “Eu vivo e é daqui que eu gosto, e não falem mal, dizia ela ao encerrar a entrevista” a Adélia Aparecida de Souza Haracenko.
(Adaptações: Saul Bogoni)