Produtor vê mais profissionalização na pecuária
Apesar de ter ainda muito potencial de crescimento, a pecuária está se profissionalizando na região de Paranavaí. A avaliação é do produtor rural Marcel Thuronyi, cuja família está há mais de 50 anos na atividade.
Otimista, o produtor reitera a opção pela tecnologia e sistema profissional como forma de resistir à concorrência com outras culturas, dentre as quais, a cana-de-açúcar.
Thuronyi lembra que há cerca de 15 anos, a região tinha 1,1 milhão de cabeças em 800 mil hectares. Hoje, o rebanho soma cerca de 950 mil em apenas 600 mil hectares.
Portanto, raciocina, houve decréscimo de 33% da área e de apenas 15% do rebanho. O decréscimo da área e do rebanho teve a mesma razão: um surto de febre aftosa com consequente avanço de outras culturas.
Para o criador, o decréscimo menor do rebanho em relação à área é uma prova da maior profissionalização – o índice de produtividade – o que ele chama de verticalização da pecuária. A área total da microrregião chega a um milhão e 100 mil hectares (450 mil alqueires). Portanto, a atividade ocupa mais de 50% do solo do Extremo-Noroeste.
INVESTIR EM PASTAGEM – Engenheiro agrônomo, Thuronyi defende a pecuária como alternativa econômica. Opina que o pecuarista deve se ver como um lavoureiro de pasto. Ele entende que o boi é um subproduto. O pasto é, portanto, a cultura do pecuarista. A qualidade deste pasto vai determinar melhor ou pior resultado.
O agrônomo embasa sua visão, lembrando um princípio elementar da zootecnia. Detalha que o fenótipo (características observáveis) do gado é resultado do genótipo (genética) e do ambiente (pasto, etc.). Portanto, conclui, além da boa genética, o meio ambiente deve ser propício para o desenvolvimento do rebanho.
Insiste que não adianta investir em gado de boa genética se o pasto/lavoura for negligenciado. A solução passa por manejo adequado, acompanhamento técnico e investimento em suplementações capazes de promover ganho de peso do rebanho ou pelo menos mantê-lo neste período de inverno. Ele detalha procedimentos servíveis tanto para o regime de criação extensiva, semiextensiva ou confinamento.
A pecuária já passou por crises fortes. Recorrendo mais uma vez ao ano de 1995, Thuronyi diz que a arroba chegou a ser comercializada entre R$ 47,00 e 43,00 (hoje está na casa de R$ 93,00). Essa situação colaborou para o crescimento da atividade canavieira. Hoje, de acordo com o Núcleo Regional da Secretaria da Agricultura e do Abastecimento – são 137 mil hectares de cana.
A DIVERSIFICAÇÃO – A expansão das atividades agrícolas pode ser um problema, mas também a solução. Ele justifica que, além da profissionalização, o caminho do pecuarista passa pela diversificação, consorciando culturas de acordo com a vocação e características da propriedade. Neste aspecto, a própria atividade canavieira “exigiu” o novo posicionamento do pecuarista.
Tanto que não defende a ampliação da área, o que aliás, para ele, está descartada a partir dos limites impostos por questões ambientais e até de concorrência com outras culturas. Hoje a pecuária tem um grande potencial dentro da área, já que há criadores com três cabeças por alqueire e outros com 8 ou 9. Cita o seu exemplo de consórcio com mandioca. Esse número nem é o limite. Para Thuronyi vai muito além, podendo chegar a 30 cabeças por alqueire com investimento em irrigação.
Insiste que só vai sobreviver quem se profissionalizar, aliás, requisito para todas as atividades do campo. Ele defende a viabilidade da pecuária e adverte que o mundo vai precisar da carne. As oscilações de mercado são normais, frutos do momento econômico e de outras variáveis.
Os países em desenvolvimento que se destacam (BRIC – formado por Brasil, Rússia, China e Índia) vão precisar de comida, pois, à medida que se desenvolvem, o povo passa a consumir mais. Com exceção da Índia que não consome carne bovina, os demais são possibilidades de mercado, sintetiza, lembrando que o mercado interno brasileiro também está aquecido.
O produtor rural faz ressalvas em relação ao monopólio do mercado por grandes grupos. Eles podem inclusive manipular preços, jogando para cima ou para baixo, mas sem repassar eventuais ganhos ao consumidor. Em síntese: a alta vai para a ponta do mercado, o que não acontece com as quedas de preços, lamenta. Também a carne é utilizada como fator de atração de clientes e seu preço derrubado artificialmente em determinados momentos.