Produtores voltam a colher, mas apenas para indústria que garantir preço ajustado

Após duas semanas de paralisação, produtores de mandioca devem voltar a colher normalmente a partir de amanhã. Mas, os agricultores estão impondo uma condição: a garantia de um preço mínimo ajustado com a indústria de fécula, debatido em reunião na última quarta-feira. O valor é de R$ 180,00 a tonelada da raiz, colocada na indústria.
Na verdade, algumas empresas já praticavam esse preço, mesmo antes da paralisação. Porém, há casos de remuneração abaixo de R$ 150,00, como relatam agricultores. A intenção é que a evolução no preço garanta o mínimo de equilíbrio frente aos custos, explica Francisco Abrunhoza, presidente da Associação dos Produtores de Mandioca do Paraná – Aproman.  Ele adverte que o custo total de produção ultrapassa os R$ 200,00 por tonelada.
O presidente reforça que a indústria que descumprir o acordado não deve receber matéria prima. Outro ponto destacado pela Aproman é que não deverá haver retaliação por parte de qualquer empresa em relação aos produtores. Se houver, antecipa, poderá acontecer nova paralisação.  
Questionado sobre a eficácia das condições estabelecidas pela categoria (e seu cumprimento), Abrunhoza diz que os produtores estão unidos e serão capazes de fazer a leitura correta de cada situação. Ele lembra que o movimento ganhou outros estados – especialmente Mato Grosso do Sul e São Paulo. Apenas Paraná e Mato Grosso do Sul respondem por 94% da fécula produzida no país.
NOVOS CONTATOS – O presidente também se mostrou otimista com a repercussão da crise na mandiocultura, tema de debates na Assembleia Legislativa do Paraná durante a semana. Amanhã ele estará em Curitiba para contatos com lideranças políticas e também na Conab – Companhia Nacional de Abastecimento.
Na sequência, Abrunhoza irá para Brasília, onde tem agenda com o Ministério do Desenvolvimento Social e Ministério da Agricultura. A Aproman defende a revisão do preço mínimo oficial (atualmente R$ 170,00), além de R$ 150 milhões para compra de estoque regulador de farinha pelo Governo Federal – chamado AGF.
Ele não vê necessidade de aquisição de fécula, pois, entende que não há grandes estoques do produto. “A paralisação mostrou isso. Em poucos dias a indústria precisou de mandioca para transformar e honrar seus contratos”, detalha. A indústria (o conjunto das fecularias), por sua vez, afirma ter 30 mil toneladas em estoque, suficientes para abastecer o mercado por cerca de um mês.
Aliás, o debate entre fecularias e produtores teve momentos nada amistosos durante a paralisação. Abrunhoza disse que espera da indústria uma postura de aliada do produtor, o que não teria se verificado. “Foram mais de 20 liminares pleiteadas e concedidas na Justiça”, lamentou.
DIFERENÇAS – O debate nestes dias saiu da defesa classista. Tanto que o presidente foi impedido de participar das reuniões de conciliação do setor, por imposição de alguns industriais. Eles se revelaram ofendidos com afirmações de Abrunhoza em reuniões dos produtores. O presidente da Aproman chegou a gravar um pedido de desculpas, admitindo que pode ter se excedido nas críticas. O vídeo circulou nas redes sociais.
As indústrias, através da Abam – Associação Brasileira dos Produtores de Fécula de Mandioca – reiteraram a defesa dos agricultores durante os protestos. Mas, fizeram ressalvas quanto à eficácia da paralisação. A Abam prega a adoção de políticas duradouras, capazes de regular o setor a longo prazo.