Professor luta pelo merecido reconhecimento
“30 de agosto – Dia de Luto e Luta dos Educadores do Paraná”. A frase está na camiseta do professor José Manoel de Souza, presidente da APP-Sindicato de Paranavaí e região, que recebeu a reportagem do DN na sede da entidade para um bate-papo sobre o momento da categoria.
A camiseta azul de José Manoel de Souza é mais uma peça de mobilização da categoria, que através de panfletos, jornais e até megafone em praça pública, pede melhores condições de trabalho, saúde e salário.
A vestimenta do professor de Geografia é uma alusão ao dia 30 de agosto de 1988, data do confronto da cavalaria policial (sim, equinos) com professores a pé, em Curitiba, quando protestavam na sede do Governo. O episódio está na história como um marco da luta da categoria e de truculência para com as pessoas responsáveis por ensinar o caminho da luz aos filhos do Paraná.
Passados 25 anos, muitos dos desafios persistem, afirma o presidente, em sala de aula há 21 anos. Para ele, houve degradação nas relações professor/aluno, dentro das escolas. As razões são muitas e vão desde o que considera afrouxamento da lei gerando permissividade, até a perda de valores familiares.
FAMÍLIA – Souza avalia que a família está transferindo para a escola a educação de berço, que deveria ser recebida em casa. Mas, entende que se trata de um novo momento, em que os pais saem para trabalhar e entregam os filhos ao sistema desde cedo.
Mesmo compreendendo os problemas das famílias, ele pede que as leis sejam adequadas para que não impere a sensação de impunidade e de indisciplina. “Hoje temos que disputar o aluno com várias coisas negativas, incluindo o crime organizado, o perigo das drogas e até as diversões menos danosas, mas que igualmente afastam os estudantes”, analisa. Neste ponto, entende, faz falta a família mais presente.
SALAS LOTADAS – O desafio de educar passa ainda pela superlotação das salas de aula. Para o presidente, as salas deveriam ter no máximo 25 alunos. Na prática, muitas passam de 40 alunos. Tanta gente para um único professor tem ainda outro agravante: a pressão pelo cumprimento de metas, gerando estatísticas positivas para os governos. A superlotação e a necessidade de gerar resultados a qualquer custo contribuem para que os profissionais adoeçam física e mentalmente.
SAÚDE – José Manoel de Souza considera o atendimento à saúde um ponto crítico na carreira do professor. Hoje conta apenas com o SAS, um sistema que não funciona e com prazo de validade (deve ser substituído no primeiro semestre do ano que vem). Insuficiente, o SAS não dá conta de atender, muitos com doenças emocionais e que descambam para males físicos.
SALÁRIOS – Na questão salarial, houve avanços por causa da mobilização, mas há muito por conquistar. Souza afirma que o piso nacional não está implantado, embora a diferença seja pequena, considerando os benefícios. Ele antecipa que há o compromisso de equiparar ainda neste mês.
O piso nacional para 20 horas é de R$ 1.567,00. No Paraná o piso é de R$ 1.112,76 para profissionais de nível universitário, que recebem também o auxílio transporte. Em 10 anos o profissional atinge o topo da carreira e se concluir o mestrado, vai a R$ 3.875,13. Uma situação longe do ideal, mas que foi bem pior no passado, analisa.
A APP-Sindicato com sede em Paranavaí é a maior regional do Paraná, abrangendo 29 cidades. São 2.900 profissionais associados e um total aproximado de sete mil profissionais. A maioria dos professores dos municípios tem sindicatos próprios, caso de Paranavaí.
O SONHO PERMANECE – Apesar de todos os percalços, há espaço para sonhar com uma escola ideal. Souza lembra que o professor desfruta de uma posição com algum reconhecimento da sociedade. A motivação para seguir sempre vai existir, pois, como entende, ser professor é uma questão de vocação.
Também no aspecto positivo, a rede pública oferece estabilidade no emprego, permitindo ao profissional planejar sua carreira, apesar dos vencimentos longe do ideal. Soma-se a tudo isso o fato de que o professor é insubstituível, não deixará de existir mesmo diante das inovações tecnológicas. “Nós construímos a cidadania. O professor é o guia da vida e para ele o nosso reconhecimento neste dia especial”, conclui.