Quando chegou o dia de Pentecostes

O maior momento do Espírito Santo na vida da Igreja, no Ano litúrgico, é o tempo Pascal. O Espírito surge como fruto da Páscoa. A Páscoa celebra a passagem de Jesus em nossa história. É como se Páscoa da Ressurreição fosse uma árvore, e o Espírito Santo, o fruto da árvore.
O texto mais importante do evangelho para a vinda do Espírito Santo está em João 20,19-31. Dando o Espírito Santo, o Ressuscitado faz a nova criação. Apresenta o episódio do primeiro encontro de Jesus Ressuscitado com os discípulos, no próprio domingo da Ressurreição. No entardecer daquele domingo, o Ressuscitado dá aos discípulos o fruto maior de seu mistério pascal da morte e ressurreição: O Espírito Santo. O gesto para transmitir o Espírito Santo é significativo: Jesus sopra sobre os discípulos, depois de soprar fala: “Recebei o Espírito Santo”. O Espírito chega aos discípulos com o sopro do Ressuscitado. Soprar é por ar para fora. O Ressuscitado, Poe ar para fora, porém na direção dos discípulos, para que eles o aspirem. No gesto de por para fora e de eles inspirarem este ar, Jesus Cristo passa aquilo que o faz estar vivo, com Deus Pai: o seu Espírito Santo!
Aquilo que o ar significa para nossa vida, o Espírito significa para Cristo. O Espírito Santo é o Amor do Pai e do Filho entre si. Isto nos é dado.
Notemos que a palavra ar, em hebraico, é “ruah”, em grego é “pneuma”, em latim, é “spiritus”. Na Bíblia em português, em vez de usar nossa palavra ar, aportuguesou-se o “spiritus” do latim que se tornou Espírito. Estaria certo, pois falarmos em Ar Santo, só que não é costume, causaria estranheza. O texto do evangelho de João que descreve o Ressuscitado soprando, relaciona-se com o início da Bíblia, onde trata da criação do homem: Gn.2,7. O Criador sopra nas narinas do boneco de barro, para empurrar ar dentro. Como a gente faz respiração boa-a-boca, com alguém que se afoga. Por causa do sopro do Criador, o barro se torna um ser vivente. Note que o afogado está vivo, o boneco de barro não tinha vida alguma! É o princípio de Vida.
Esta criação, no entanto, foi manchada pelo pecado. Pelo pecado, a humanidade rompeu a amizade com Deus. Mas Deus prometeu refazer o estrago do pecado na humanidade. A promessa se cumpriu no mistério pascal de Jesus Cristo.
Notemos que João usa a mesma palavra soprar como o autor do Gênesis usou, com o mesmo significado de passar o ar de Deus para a humanidade. Houve, portanto, dois sopros, duas criações: Na primeira, Deus criou a humanidade, na segunda, o Ressuscitado criou a nova humanidade, dando-lhe o Espírito Santo, ou Sopro Santo, ou Ar Santo.
A humanidade criada pelo sopro do Criador se rebelou pelo pecado; devia viver em comunhão com Deus, viver em comunhão de amor…
No início era concórdia porque o mundo inteiro falava a mesma língua. Era “um povo só unido”. O problema começou com a pretensão de orgulho. A concórdia virou confusão e a união se fez dispersão. Como nós hoje costumamos dizer: “Eles não falavam a mesma língua”. Não se entendiam mais. Era uma Babel. Pois, o Pentecostes (At.2,1-41) é para refazer o estrago: “reunir o povo disperso e introduzir uma linguagem que todos possam entender. Os doze povos que estavam reunidos na praça, em Pentecostes representam a totalidade dos povos conhecidos na época. A linguagem que todos entenderam é o Amor Pentecostes, pois, é a reunião de todos os povos falando a mesma e única linguagem do amor. A tal linguagem que todos entendem e pela qual todos se unem, para Lucas, é o Espírito Santo de Deus!
Pentecostes tem uma origem na história e tradições festivas do povo judeu. Primeiro era comemoração da colheita. O significado é evidente: a colheita revela a bondade da terra que produz frutos, gratuitamente. A generosidade da terra é imagem da prodigalidade de Deus.
Quando o povo judeu peregrinava pelo deserto e fez Aliança com Deus, no Monte Sinai recebeu importante Dom de Deus: as Tábuas da Lei com os 10 mandamentos. A comemoração da Aliança passou a ser celebrada na Festa da Colheita, para manter o sentido do Dom. Passou a chamar-se Pentecostes porque se realizava 50 dias depois da Páscoa. A Festa de Pentecostes, ou 50 dias, era o Dom maior de Deus para o povo: a Aliança.
Os cristãos também acrescentaram a sua contribuição: a Festa da Colheita dos frutos da terra e do Dom da Aliança foi enriquecida com o grande Dom do Espírito Santo. Lucas coloca a doação do Espírito Santo 50 dias após a Páscoa para manter a ligação com os judeus na história da salvação.
O que é o Pentecostes cristão? É o Dom do Amor do Pai, que chamamos de Espírito Santo.
Colheita dos frutos da terra, Aliança nas Tábuas da Lei, é uma linguagem universal de compreensão da humanidade: Eis o Dom maior do Espírito Santo do Amor como fruto da Páscoa da Ressurreição dado por Deus para o povo construir a civilização do Amor!
A vinda do Espírito Santo se dá na comunidade. Este é o momento, então da criação da comunidade dos que aceitam e seguem Jesus Cristo, na força do Espírito Santo.
Recebendo o Amor, as pessoas constroem laços comunitários sólidos. A comunidade é criada para fazer alguma coisa. A comunidade recebe a missão de continuar a missão de Jesus Cristo. O mesmo Espírito Santo que impelia Jesus e o guiava, agora impele e guia a comunidade.