Quatro detentos morrem durante rebelião em Cascavel. Dois foram decapitados
A rebelião deixou saldo de ao menos quatro detentos mortos, sendo dois deles decapitados pelos amotinados, que se diziam da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital).
O governo não descarta que haja mais vítimas, o que só seria confirmado após a vistoria do presídio, prevista para a noite de ontem.
O juiz da Vara de Execuções Penais (VEP), Paulo Damas, acredita que há a possibilidade de o número de mortos variar de 10 a 20 pessoas. Em entrevista, ele afirmou que os dois agentes que eram feitos reféns estavam bem. Apenas um deles apresenta um machucado na região do abdômen, mas sem gravidade.
De acordo com a Polícia Militar, ao menos 600 presos dos 1.040 detentos do presídio participaram do motim. A Penitenciária Estadual de Cascavel abriga 1.038 presos e tem capacidade para 1.116.
Segundo a comissão de direitos humanos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), 147 presos da ala do seguro – onde estão condenados por crimes como estupro – foram feitos reféns dos rebelados. De acordo com a Polícia Militar, os amotinados são ao menos 600 dos 1.040 detentos do presídio.
Pelo menos oito deles foram colocados no telhado da penitenciária de bruços e com as mãos amarradas para trás, quando quatro deles foram jogados pelos rebelados de uma distância de 15 metros – dois deles morreram.
De acordo com o advogado Jefferson Makyama, da OAB, os detentos permaneceram com os reféns inclusive dentro do presídio. Entre eles, estava ainda dois agentes penitenciários.
Na noite de domingo, 145 presos foram transferidos para a PIC (Penitenciária Industrial de Cascavel), vizinho ao local da rebelião, e presídios de Maringá e Francisco Beltrão. A Secretaria de Justiça do Paraná informou que vai transferir mais 700 presos.
TORTURA A AGENTE – Um agente penitenciário feito refém durante rebelião foi torturado psicologicamente com a cabeça de um detento morto e decapitado pelos amotinados.
O refém estava no telhado do presídio de onde pelo menos quatro presos foram jogados pelos rebelados.
O advogado Jairo Ferreira Filho, do Sindarspen (Sindicato dos Agentes Penitenciários do Paraná), acredita que outros presos tenham sido mortos. Policiais confirmaram à imprensa que duas pessoas foram decapitadas. Várias ambulâncias saíram do local levando presos feridos.
Segundo o advogado do Sindarspen, que disse ter visto o preso decapitado, os rebelados usaram a cabeça do morto para torturar um agente penitenciário mantido refém. Eles encostavam a cabeça no colo do agente, que estava deitado no telhado. "Estão fazendo tortura psicológica", disse Ferreira Filho.
Quatro detentos morrem durante rebelião em Cascavel. Dois foram decapitados
Familiares de presos que ficaram acampados nas proximidades da Penitenciária Estadual de Cascavel afirmam que a rebelião só foi deflagrada por causa da precariedade das condições em que vivem os detentos.
A mulher de um preso, que preferiu não se identificar, afirma que, além de sofrerem agressões dos agentes penitenciários, os detentos recebem alimentação de péssima qualidade.
"Eu já presenciei muitas vezes comida azeda. Eles não têm chuveiro nem material de higiene", afirmou.
O pai de outro detento disse que, além de a comida ser ruim, os presos apanham dos agentes. "Vão transformar isso aqui num novo Carandiru", disse, referindo-se à rebelião na extinta casa de detenção de São Paulo que terminou com 111 mortos, em 1992.
A mulher de um preso, que também não quis dizer seu nome, contou que os agentes nunca permitem que ela entre com material de higiene quando vai visitar o marido. "Não tem sabonete, não tem toalha, não tem nada lá", contou.
Um rapaz que se identificou como Ivan Portela e disse ser ex-presidiário do local contou que muitas vezes apanhou dos agentes por motivos banais. "Cansei de levar tapa na cara. Uma vez eu pedi remédio e acabaram me isolando por isso", contou.