Que país é este? Lideranças avaliam atual situação do Brasil
Com quatro votos a três, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) absolveu a chapa Dilma-Temer, vencedora das eleições de 2014. Com a decisão, na sexta-feira (9), o pedido para retirar o mandato foi arquivado.
O resultado, no entanto, não anula os efeitos da crise que o Brasil enfrenta. Os casos de corrupção que vieram à tona nos últimos anos, graças às delações envolvendo políticos de quase todos os partidos, despertaram na população o sentimento de descrença.
Eleitores estão insatisfeitos com a situação. Não é preciso ir muito longe para perceber que as manifestações vão da indiferença à raiva, passando pela decepção e pelo desejo de que é preciso mudar.
Mas em que medida esses escândalos envolvendo figuras de projeção nacional afetam a política no âmbito municipal? O que pode e o que deve ser feito para desfazer a ideia de que todos são igualmente corruptos? É possível ter esperanças?
A equipe do Diário do Noroeste conversou com lideranças de Paranavaí para saber o que pensam sobre esse momento, como percebem as reações da sociedade e que futuro vislumbram para o Brasil.
O presidente do Diretório Municipal do PT, Silvio Alexandre dos Santos, afirmou que a crise política prejudica muito o país, afetando principalmente a economia e a “credibilidade que o cidadão tem em relação à classe política”.
Na opinião do presidente da Comissão Provisória do PMDB, Valdir Tetilla, a crise é institucional e se arrasta desde o final da ditadura militar. Antes, de forma velada. Agora, passada a limpo e com o conhecimento de toda a população.
Tetilla disse que a democracia imatura deu espaço para políticos preocupados em satisfazer os próprios interesses. “Não pela melhoria das instituições e pelo bem do povo, mas por vaidade pessoal, pelo poder”.
Para o peemedebista, é preciso separar partidos políticos e pessoas mal-intencionadas. Tetilla argumentou que os eleitores devem considerar a ideologia partidária, a história e a contribuição dada para o desenvolvimento do Brasil.
Ao mesmo tempo, é necessário perceber quem são aqueles que se inserem na política para obter vantagens, ganhar dinheiro. “São pessoas que se filiam sem ideologia. São oportunistas. O problema está no indivíduo e não no partido”.
O pensamento do líder petista é semelhante. Na avaliação de Santos, o senso comum atrapalha avanços no sentido de contornar a crise. É preciso mudar a ideia de que todos os políticos são corruptos e nenhum partido está isento.
Para superar a crise, disse o presidente do Diretório Municipal do PT, é fundamental que as pessoas voltem a acreditar na política e se envolvam de maneira definitiva. A organização e a participação da sociedade serão decisivas.
Um dos primeiros passos para mudar o cenário atual seria a destituição de Michel Temer (PMDB). A saída dele da Presidência da República abriria espaço para eleições diretas. “A população deve pedir por essa mudança”, defendeu Santos.
A concepção do petista é que a chegada do peemedebista à chefia do Poder Executivo foi resultado de golpe parlamentar, para que um novo projeto de governo fosse implantado no Brasil, diferente daquele proposto por Dilma Rousseff, eleita presidente.
Tetilla, filiado ao mesmo partido político de Temer, fez avaliação semelhante à do petista. “Quem está no poder não tem legitimidade, não foi eleito por voto popular”. E continuou: “Se foi contra a lei, tem que ser cassado”.
BASE – Se os escândalos de corrupção e as crises institucionais geram desânimo em relação à política, é na base que a crença dos eleitores precisa ser recuperada. Ou seja, esse trabalho deve ser feito nos municípios. De maneira incisiva.
O PT está trabalhando nisso, garantiu Santos. Ampliando o diálogo com militantes, atuando diretamente com movimentos sociais, apostando no contato direto com a população. Se a política for feita de forma responsável, “é possível mudar essa situação de descrédito”, disse o líder petista.
Para Tetilla, a proximidade com a comunidade local torna as realidades nacional e municipal bastante distintas. “Aqui, a população conhece de perto, sabe quem é quem. Isso pode resgatar a confiança na política”.
O peemedebista defendeu uma “oxigenação” partidária. Na opinião dele, esse trabalho precisa começar na base, chamando pessoas jovens e dispostas a mudar as velhas práticas daqueles que agem para se perpetuar no poder.
ESCOLHA – A decisão de ouvir Silvio Alexandre Santos e Valdir Tetilla para a produção desta matéria se deve ao fato de serem líderes dos dois partidos envolvidos no processo de cassação concluído na sexta-feira. As duas siglas estavam representadas na chapa que saiu vitoriosa das eleições de 2014: Dilma Rousseff (PT), presidente, e Michel Temer (PMDB), vice-presidente.