Renúncia não é a solução…
Dirceu Cardoso Gonçalves*
Foram expostos à Nação, nos últimos dias, pronunciamentos que defendem a renúncia do presidente Michel Temer até o próximo dia 31, como fórmula de levar o país a uma extemporânea eleição direta.
Para a eventual renúncia a partir de 1º de janeiro, encontramos aqueles que defendem, antes do ato extremo, a aprovação de uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que retire do Congresso o direito de escolher o novo presidente e estabeleça e eleição direta também para o impedimento nos últimos dois anos do mandato.
Essas falas e propostas são impatrióticas num momento como este, quando o presidente, substituto constitucional da impichada Dilma Rousseff, se esforça para colocar a casa em ordem e conduzir o pais para fora da crise.
Com a classe política desprestigiada como está em função dos malfeitos já descobertos pelos escândalos dos últimos anos e hoje impactada ainda mais pelas apurações da Operação Lava Jato e suas subsidiárias, é difícil prever o que poderá sair de uma eleição presidencial.
Poderia ocorrer de a solução buscada ser pior do que o problema.
Não vamos esquecer que todos os apontados como possíveis presidenciáveis, inclusive Marina Silva, aparecem nas listas da delação da Odebrecht e, até agora, nenhum dos delatados em processos anteriores conseguiu provar em contrário.
Correríamos, então, o risco de eleger alguém sem condições de assumir ou, em consequência, cair nas mãos de um salvador da pátria ou de um caçador de marajás, estabelecendo o caos em definitivo.
As novas gerações não assistiram e talvez não tenham atentado através de estudos da história brasileira para o ocorrido em 1961. O polêmico presidente Jânio Quadros renunciou em 25 de agosto daquele ano e o país mergulhou numa crise que levou ao parlamentarismo (derrotado em 1963 por um plebiscito) e desaguou no golpe militar de 1964.
Vivemos 21 anos sob governos militares, hoje classificados como ditadura mas na época autoproclamados como democráticos. Só em 1985, com a posse de José Sarney (vice de Tancredo Neves, que estava à morte), voltamos a ter governo civil.
A democracia civil estabelecida desenvolveu-se com hábitos e vícios que hoje são classificados como crimes e ameaçam sua estabilidade. Salvo melhor juízo e informações altamente privilegiadas que não tenham chegado ao nosso conhecimento, o melhor que temos para o momento é apoiar o presidente Michel Temer e com ele discutir à exaustão as reformas propostas para, quando aprovadas, elas representarem o pensamento da sociedade e não só do governo.
Realizar uma eleição nesse momento, independente de quem seja o seu vencedor, seria apenas perder tempo e retardar a solução da crise. Quanto à renúncia, pelo que nos demonstra a história recente, não é solução…
*Dirceu Cardoso Gonçalves – dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)