Rotação em prol do solo e da produtividade

Há mais de duas décadas, o produtor José Roberto Mortari destina boa parte dos 380 hectares, divididos em duas propriedades na região de Londrina, no Norte do Estado, para o milho no plantio de verão.
Independentemente do preço, cobrir talhões com o cereal a cada estação mais quente do ano faz parte da estratégia de rotação adotada para garantir a fertilidade do solo, o controle de doenças e a alta produtividade na soja.
O mesmo ocorre na estação fria. Na atual safrinha, mesmo com as incertezas do clima e as tradicionais dificuldades de comercialização, Mortari cobriu 96 hectares com trigo. No restante da área, aveia preta consorciada com nabo, 134 hectares, e milho, 156 hectares, preparam o solo para a próxima safra de verão.
“Mesmo sem saber se vai dar dinheiro, é importante [a rotação]. Pois no verão, o terreno fica mais limpo, sem buva e sem amargoso. A terra fica muito bem estruturada”, aponta o produtor, filho do pioneiro do Sistema Plantio Direto (SPD) em Londrina, no longínquo ano de 1973.
“Apesar de não ter retorno financeiro imediato, no longo prazo gera mais dinheiro por conta da soja, pois garante boa produtividade”, complementa.
Porém, o retrato da propriedade de Mortali não condiz com a realidade das lavouras paranaenses. Atualmente, a maioria dos produtores de grãos do Estado não adota o sistema de rotação. Não existem dados oficiais, mas o fato do milho ocupar menos de 10% da área agricultável de verão no Paraná caracteriza a monocultura da soja, principalmente nas regiões mais quente.
“Carece de dados quantitativos. Mas é evidente que podemos dizer, sem medo de errar, observando as paisagens e alguns números, que a rotação é pouco utilizada na produção de grãos. Restrita mais nas regiões frias. Até encontra em áreas de verão, mas infelizmente pouco”, aponta o pesquisador Henrique Debiasi, da área de manejo do solo da Embrapa Soja.
Essa postura imediatista dos produtores, que acabam optando pela cultura com retorno econômico de curto prazo, geralmente a soja, tem gerado problemas nas lavouras, como a proliferação de algumas doenças e insetos, infestação de matos e perda de qualidade do solo.
A oleaginosa, cultivada em larga escala no verão, deixa a terra com baixa quantidade de resíduos após a colheita. “Muitos municípios estão com soja em 99% da área agrícola no verão e milho safrinha no inverno”, lamenta Debiasi.
MUDANÇA DE POSTURA – A prática da rotação de culturas numa mesma estação se faz necessária para a manutenção dos altos índices de produtividade do Paraná. Porém, segundo o pesquisador da Embrapa Soja, essa mudança de postura por parte produtor não pode ser imposta, mas ocorrer de forma gradual.
“Não é o ideal, mas se o produtor mudar no inverno já melhora bastante. Não irá resolver o problema, mas é um avanço. Precisamos ter uma estratégia, convencer o produtor por etapas”, explica o pesquisador.
Estudos desenvolvidos por diversas entidades comprovam a eficiência da rotação de cultura. Pesquisa da Embrapa Soja mostra que a alternância do milho safrinha com outra cultura – aveia, braquiária ou consórcio – gera economia de R$ 270 por hectare na soja na safra de verão, principalmente na redução com o custo do herbicida.
Além disso, a rotação gera uma maior estabilidade da atividade, como a manutenção da qualidade do solo e redução de problemas fitossanitários.
“Reduz custo e aumenta a produtividade da soja. Mas o produtor precisa analisar a área como um sistema, não por temporada. Desta forma, os não ganhos com o milho verão serão diluídos ao longo de três anos nos ganhos com a oleaginosa”, afirma Debiasi.
Isso ocorre na propriedade de Mortari. Enquanto a produtividade média da soja na safra 2016/17 no Estado atingiu 3,7 mil quilos por hectare, o produtor de Londrina conseguiu 4,3 mil quilos por hectare, 17% maior que o rendimento estadual. “Essa alta produtividade está ligada a rotação que faço há décadas”, enfatiza Mortari. (Revista Sistema Faep).

“Mesmo sem saber se vai
dar dinheiro, é importante
[a rotação]. Pois no verão,
o terreno fica mais limpo, sem buva e sem amargoso.
A terra fica muito bem
estruturada”

José Roberto Mortari,
produtor de Londrina