Sérgio Cabral condena ação de justiceiros no Rio

RIO DE JANEIRO – Em meio a novas denúncias de ações de justiceiros no estado do Rio, o governador Sérgio Cabral condenou ontem ações do “poder paralelo” e prometeu investigar e prender responsáveis pelos crimes. Ontem o jornal Extra divulgou um vídeo de homens que executaram uma pessoa na Baixada Fluminese.
No início da semana, um adolescente foi espancado, despido e, posteriormente, preso a um poste pelo pescoço com uma tranca de bicicleta, no bairro de classe média Flamengo, na zona sul da capital. A Polícia Civil investiga o caso e já prendeu 14 suspeitos.
“Nosso governo reagirá a justiceiros, perseguindo e prendendo esses assassinos. Isso é inadmissível”, afirmou Sérgio Cabral, após inaugurar uma unidade de saúde, em Duque Caxias, município que também fica na baixada fluminense
O governador reforçou que repudia qualquer tipo de ação de milicianos e justiceiros e deu como exemplo o combate às milícias, durante seu governo. “Quando chegamos eram 20 milicianos presos, hoje são mais de mil, incluindo ex-policiais que foram mandados embora [da corporação]”, declarou.
Perguntado sobre a ação policial que deixou seis jovens mortos no Morro do Juramento, na zona norte da cidade, o governador disse que somente a perícia poderá esclarecer as circunstâncias das mortes. “Nossa política de segurança pública tem que ser sempre a da paz. Paz é o nosso caminho”, comentou Cabral.
Ele informou que, nos último anos, foi implementado um bônus para policiais que reduzissem crimes violentos como latrocínio e homicídios, além de mortes em confrontos.
Os crimes no Morro do Juramento são resultado de uma operação policial que buscava os culpados pela morte de uma soldado da Polícia Militar, no domingo.
O governador deu as declarações ao participar da inauguração de uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) pediátrica no estado. A instalação custou cerca de R$ 450 mil e tem capacidade para atender 350 pacientes até 13 anos por dia.

Vídeo registra assassinato de jovem em rua
Um rapaz negro, de bermuda e sem camisa, está sentado no asfalto quando recebe três tiros na cabeça em plena luz do dia, em uma rua com intenso movimentos de carros e pedestres. A cena foi registrada em vídeo por uma câmera de celular e divulgada pelo jornal “Extra”.
O crime ocorreu na Estrada Plínio Casado, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Antes de ser baleada, a vítima aparece cercada por dois outros jovens que se afastam com a chegada de uma moto. Neste instante, um homem negro, sem camisa e de bermuda preta, desce da garupa com uma pistola nas mãos e atira, à curta distância, na cabeça. São três disparos seguidos.
A investigação do crime está sob a responsabilidade da 54ª DP (Belford Roxo).
De acordo com o comandante do 39º Batalhão da PM (de Belford Roxo), tenente-coronel Paulo Roberto das Neves, o vídeo da execução foi encaminhado à delegacia responsável pelo caso. “Nos últimos três meses, mais de 250 pessoas foram presas por envolvimento com tráfico de drogas e grupos de extermínios”, informou o comandante, em nota.

Anistia diz que sociedade tem de escolher entre Estado de Direito e barbárie
O diretor executivo da Anistia Internacional no Brasil, Átila Roque, condenou ontem os casos de tortura e homícidio ocorridos nos últimos dias na capital fluminense em que as vítimas eram pessoas suspeitas de ter cometido crime.
A sociedade passa por um momento de escolher entre o Estado de Direito e a barbárie, disse Átila. “Embora, para alguns grupos, exista a ilusão de que o problema está sendo resolvido, a chamada ‘justiça com as próprias mãos’ nada mais faz do que expandir o ciclo de violência, brutalização e banalização da vida, com a penalização de pessoas pobres, notadamente jovens e negros.”
O jornal Extra, em matéria de capa, denunciou a execução de um homem, no meio da rua, em plena luz do dia, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Segundo testemunhas, o homem foi acusado de assalto e morto com três tiros à queima-roupa.
“Infelizmente, o Estado não dá respostas suficientes para a questão e, via de regra, adota um sistema de segurança pública sustentado na repressão, na criminalização e na geração de mais violência, alimentando esta triste engrenagem”, lamenta Átila.
“As imagens chocantes com as quais nos deparamos nos últimos dias são um poderoso alerta do quanto ainda podemos afundar como sociedade quando as instituições públicas não conseguem responder ao estado de emergência social que vivemos”, acrescentou.