Serviço público

Rogério J. Lorenzetti*

Nos meus quarenta e dois anos de atividade profissional como administrador, tive a oportunidade de ser um expectador e agente ativo das mudanças pelas quais o Brasil passou.

Um país sem liberdades políticas nas décadas de 60 a 80, embora com crescimento acima da média mundial, período da ditadura militar, passando pela inflação dos anos 80/90, à restauração da democracia através das eleições diretas e uma nova constituição que deu aos brasileiros avanços sociais muito relevantes na questão dos serviços públicos ofertados à população.

Com ela, veio o direito ao atendimento à saúde, de forma gratuita e universal, com o advento do SUS e a transferência da saúde básica aos municípios, através principalmente da criação das equipes ESF (Estratégia Saúde da Família), que passou a cuidar de forma preventiva, realizando a prevenção através de programas específicos e cuidados a doenças crônicas, disponibilizando tratamentos e medicamentos à população.

Só quem, como eu, conheceu o atendimento ofertado através da carteira de contribuinte do antigo INPS, Funrural e hospitais de caridade, que deixava muitos a própria sorte na questão do atendimento à saúde, sabe avaliar o quanto avançamos nestes últimos vinte anos.

Além disso, o acesso a creches e escolas básicas, algumas em tempo integral, facilitando o ingresso das mães no mercado de trabalho, foi muito importante para acrescentar renda a famílias de menor poder aquisitivo.

Tudo isso só foi possível pelo incremento dos serviços públicos prestados por servidores de carreira, embora tenha onerado demasiadamente os municípios sem a contrapartida financeira adequada para este aumento de atividades.

Mesmo assim, com todas as dificuldades, impaciência de parte da população, plenamente justificada pelas dificuldades vividas por ela, o trabalho dos servidores tem sido fundamental para melhorar as condições de vida e dar sequência a um aumento de renda sem precedentes aos que estão na base da pirâmide econômica.

Já está comprovado por inúmeros estudos o fato que serviços públicos são fundamentais para equilibrar a distribuição de renda, dando aos que mais precisam condições dignas de sobrevivência.

Toda esta crise, que perdura desde o início do ano passado, seria muito pior se não tivéssemos criado um colchão de proteção aos mais pobres através do incremento de atendimento por parte dos servidores públicos, em equipamentos adequados com programas próprios, estaduais e nacionais de resgate da dignidade e diminuição da desigualdade social.

Uma cidade segura é uma cidade que atende bem a população nas suas necessidades básicas.

*Rogério J. Lorenzetti, prefeito de Paranavaí