Sete meses depois do desaparecimento de mãe e filha, família vive de esperança

214 dias. Este é o tempo que dura o drama da família de Patrícia Barbosa Pereira, 28 anos, e da pequena Heloísa Barbosa Moreno, então com apenas 22 dias de vida. Patrícia saiu de casa no dia 6 de janeiro, levando a filha no colo. Iria a um posto de vacinação e não foi mais vista. Sem qualquer pista, a família vive da esperança de encontrá-las com saúde.
“Acordo à noite e fico imaginando ouvir um barulho no portão, a minha filha chegando”, fala a dona de casa Nice dos Santos Barbosa Pereira, 54 anos, mãe de Patrícia. Mesmo sofrendo de pressão alta, ela busca forças na fé e também na necessidade.
Nice cuida da filha mais velha de Patrícia, uma menina de 5 anos. A criança frequenta um Centro de Educação Infantil e sente saudades da mãe, como relata emocionada a avó. Nice conseguiu a guarda da criança recentemente.
A menina sofreu abalos e algumas mudanças, retomando hábitos já superados levando em conta a sua faixa etária, atesta o auxiliar de produção Diego Barbosa Pereira, 23 anos, irmão de Patrícia. A exemplo dos adultos, a filha de Patrícia também se agarra a um fio de esperança e acredita que a mãe voltará para casa.   
FALTA DE PISTAS – Diego reforça a expectativa da mãe e resume: “A gente quer acreditar que ela esteja viva”. Evangélico, se agarra a Deus e lamenta a falta de pistas até o momento. Segundo ele, a Polícia informa que continua procurando as duas desaparecidas.
Responsável por auxiliar a irmã em atividades do dia a dia no período de recuperação pós-parto, Diego descarta que Patrícia possa ter se envolvido em novo relacionamento amoroso.
Complementa que, mesmo separada, ela tinha afinidade com o ex-marido e, em companhia das duas filhas, o visitou um dia antes de desaparecer. Patrícia teria descoberto a gravidez logo após a separação.
Patrícia trabalhava como empregada doméstica. Com o que ganhava, mantinha as filhas e bancava outras despesas pessoais. Com o desaparecimento, a família assumiu o papel de mantenedora.
Diego conta que honrou os compromissos da irmã e teve que se desfazer de alguns objetos, inclusive do berço de Heloísa. Essa foi a mudança feita no quarto da irmã.
PREOCUPAÇÃO – Menos confiante, o pai de Patrícia, lavrador Lidiomar Rodrigues Pereira, 52 anos, tem poucas esperanças de encontrar a filha viva. Não descarta sequestro e fala que já andou mais de três mil quilômetros em busca de pistas.
O telefone celular dela está desligado desde o dia do desaparecimento. Ela saiu às 10 horas e, quando a mãe tentou contato, às 17 horas, já estava na caixa postal.
Outro dado que reduz a esperança do pai é o fato dela não ter levado documentos pessoais, roupas e nem mesmo sacado o valor referente ao benefício previdenciário a que teria direito durante o repouso pós-parto. Quando saiu de casa, Patrícia tinha apenas R$ 10,00 para pagar o ônibus circular.
Lidiomar embarga a voz ao lembrar que a filha sempre foi carinhosa e trabalhadora e que telefonava todos os dias para saber se estava bem (ele mora em outra residência). Cita que Patrícia cuidou dele durante a recuperação de um acidente.
EM CASA – Diego, Nice e Lidiomar receberam a reportagem do DN na tarde de ontem. Mãe, filho e a neta de cinco anos residem numa casa simples, mas hospitaleira, localizada na Rua “Seis” do Jardim Morumbi.
Enquanto alimentam esperanças, pedem que o caso não seja esquecido pelos paranavaienses, sob pena de entrar para a história como mais um mistério não resolvido. Nesta triste perspectiva, Patrícia e Heloísa significariam apenas uma grande interrogação.

Não há indícios de crime
Enquanto a família nutre esperanças de encontrar mãe e filha com vida, a Polícia não descarta qualquer possibilidade. Após seguir várias linhas de investigação, não chegou a qualquer indício de que tenha havido um crime.
Durante as investigações, várias informações foram averiguadas e todas não se sustentaram, informa o delegado-adjunto da 8ª Subdivisão Policial de Paranavaí, Gustavo Bianchi, que preside o inquérito. “Não dá para descartar nenhuma possibilidade”, reforça, concordando que se trata de um caso atípico, embora haja outros semelhantes no país.
Ele lembra que todas as medidas foram tomadas, inclusive com exames detalhados em uma residência e buscas em outros locais. Além do trabalho policial, também o Ministério Público acompanha o caso.
Estudos recentes indicam que 28 pessoas desaparecem no Brasil a cada hora. São 250 mil desaparecidos por ano. Segundo o site desaparecidos.org.br, todos os anos cerca de 40 mil crianças desaparecem. Ainda não há números totais acumulados de desaparecidos no país.