Setor já sinaliza perdas por causa do excesso de chuvas
Ainda é cedo para dimensionar a extensão. Porém, o setor mandioqueiro já trabalha com a perspectiva de quebra de safra por causa do excesso de chuva dos últimos meses. O problema é o apodrecimento de raízes. Reflexos serão mais flagrantes a partir de 2019, ano para o qual se projeta uma boa safra.
O Deral (Departamento de Economia) da Secretaria de Estado da Agricultura do Paraná, Núcleo Regional de Paranavaí, avalia que ainda é cedo para falar em perdas.
O técnico Vítor Inácio Davies Lago disse ao Diário do Noroeste que o apodrecimento pode ocorrer em áreas com alta umidade, portanto, não de uma forma geral. Por isso, é prematuro afirmar qual a proporção.
Ele citou que no ano passado houve perdas localizadas na safra em Santa Cruz de Monte Castelo. Sobre o ano em curso, lembrou que as condições melhoraram nos últimos dias, com menos chuva.
A podridão de raiz depende ainda de outros fatores, tais como variedade, preparo e tipo de solo. Os solos argilosos tendem a reter mais umidade.
Os dias de sol já permitem a retomada da atividade agrícola. No caso do Noroeste, a mandiocultura, a soja e o arroz, este último em fase de colheita. Na sojicultura o excesso de água pode provocar a perda de vagem em desenvolvimento.
Por fim, reforçou o técnico, ainda é cedo para fazer avaliações mais precisas. Disse que não acredita em grande volume de perdas, sobretudo, com a incidência de sol, como nos últimos dias.
INDÚSTRIA – A chuva abundante dos últimos dias reduziu a oferta de raiz de mandioca no mercado, devido à dificuldade para colher. Com isso, os preços continuam em alta. O industrial Maurício Gehlen confirmou negócios na casa de R$ 700,00 a tonelada (teor de amido 600).
O Deral, na cotação oficial, apontou preços entre R$ 626,00 e R$ 667,00 a tonelada, levando em conta o teor médio de amido em 580. A cotação oficial reflete os preços médios praticados em todo o Estado.
As chuvas de dezembro e janeiro provocaram redução na atividade industrial, justamente pela dificuldade de colheita. Nas semanas anteriores, a indústria chegou a operar com 40% da capacidade instalada.
Na semana em curso, por causa do tempo firme, a indústria funciona na casa dos 80% da capacidade. Gehlen lembrou que chuvas no final da tarde e à noite e em pequena quantidade não afetam o trabalho.
Ele disse também que não houve demissões na indústria. Porém, muitos dias de trabalho se perderam no campo devido às condições do tempo.
O industrial fez projeções cautelosas. Avaliou que a chuva provocou perdas nas lavouras, que devem ser sentidas a partir de 2019.
Não há mais como refazer plantios, pois as raízes já estão em formação. Como a planta não se desenvolve bem com excesso de água, as perdas são irremediáveis. Sem contar que a umidade reflete ainda no teor de amido da raiz.
PRODUTORES – O presidente da Associação Paranaense dos Produtores de Mandioca (Aproman), Francisco Abrunhoza, também declarou na semana passada que havia pouca oferta do produto no mercado em razão do excesso de chuva.
Ele também manifestou preocupação com a falta de matéria, pois no ano passado houve quebra na produção por causa da seca e depois por causa dos índices de chuva. Para ele, haverá um período de escassez de raiz no mercado, levando as indústrias a trabalhar com apenas parte da capacidade produtiva.
Abrunhoza apontou os altos custos de produção como outra dificuldade do agricultor. Em 2015, estava em R$ 257,00 a tonelada. Atualmente, passa de R$ 400,00.
A mandiocultura se destaca por ser uma das principais atividades econômicas de Paranavaí e de algumas cidades da região. A cadeia produtiva gera uma grande linha de produtos, incluindo a fécula e a farinha de mandioca. Graças à diversidade, é grande empregadora de mão de obra.
ÍNDICE – O mês em curso já é o janeiro mais chuvoso desde o início da verificação dos volumes de precipitação pelo Simepar (Sistema Meteorológico do Paraná), em 1997. Já choveu mais de 370 milímetros, diante da média histórica de 171 milímetros.
Dezembro também foi muito chuvoso, totalizando 297,2 milímetros, o que representa 71% a mais em elação à média histórica de 173 milímetros.
Nos próximos dias haverá mais chuva, indica o instituto. Pelo menos até segunda-feira haverá pancadas de chuva em vários momentos. Temperatura variando entre 22ºC e 32ºC.