Temer admite erro em divulgação de áudio, mas reitera discurso de áudio

BRASÍLIA – O vice-presidente Michel Temer reconheceu ontem que enviou de maneira equivocada áudio no qual antecipou discurso sobre vitória no impeachment, mas disse que, independentemente do que ocorra na votação do próximo domingo (17), continuará sustentando o mesmo discurso da gravação.
Em rápida entrevista à imprensa, o peemedebista explicou que, a pedido de companheiros do partido, gravou discurso que poderia fazer caso o pedido de afastamento da presidente Dilma Rousseff fosse aprovado no plenário da Câmara dos Deputados. Na hora de repassar para um amigo, no entanto, acabou enviando a um grupo de parlamentares peemedebistas.
"Eu reitero que aquilo que disse seria exatamente o que eu fiz no passado e continuarei a fazer independentemente do que aconteça no domingo", disse. "Ainda que o governo federal continue tal como está, continuarei sustentando as mesmas teses. Não mudei um centímetro daquilo que falei no passado", acrescentando.
O peemedebista disse não acreditar que o discurso altere o resultado da votação do domingo (17) e fez uma provocação ao ministro da Secretaria de Governo, Ricardo Berzoini, que chamou o vice-presidente de "golpista".
"Não vou responder, certas afirmações não merecem a honra da minha resposta", disse.
Em conversa com a Folha de S.Paulo, o ministro disse que o discurso de Temer "revela a trama golpista que o vice e sua turma vêm demonstrando há semanas".
"Estou estupefato. Ele está confundindo a apuração de eventual crime de responsabilidade da presidente Dilma com eleição indireta. Está disputando votos e transformou o processo numa eleição indireta para conseguir votos em favor do impeachment. Esse áudio demonstra as características golpistas do vice", declarou Berzoini.
Segundo relatos, ao ser informada do áudio, a presidente Dilma Rousseff repetiu a assessores e a auxiliares que "caiu a máscara do conspirador", em referência ao vice-presidente.
ESTRATÉGIA – Para o Palácio do Planalto, a divulgação foi proposital e faz parte de estratégia de Temer para consolidar os votos a favor do impeachment e conquistar o apoio de parlamentares ainda indecisos no momento em que ele se apresenta como uma alternativa de poder.
O governo pondera, contudo, que, ao se antecipar à votação no plenário, Temer acabou dando um "tiro no pé" e cometeu o mesmo erro do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nas eleições municipais de 1985, em São Paulo.
Na época, dias antes das eleições, o tucano, que era o favorito nas pesquisas de opinião, fez uma foto para uma revista sentado na cadeira de prefeito, fator que teria influenciado em sua derrota.

Para oposição, Temer errou ao antecipar discurso

Líderes da oposição no Congresso classificaram como um "equívoco" o discurso em que o vice-presidente Michel Temer fala como se o impeachment já tivesse sido aprovado pela Câmara dos Deputados. O áudio de 15 minutos, enviado por engano pelo próprio peemedebista a colegas, mostra como seria seu eventual governo em caso de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
"Não sou a favor de antecipar etapas, e o vice-presidente, um homem experiente na política, certamente sabe disso. Com certeza a gravação fazia parte de um exercício e hipótese", afirmou o líder da minoria no Congresso, deputado Mendonça Filho (DEM-PE), para quem a gravação foi um equívoco. Segundo ele, o melhor a ser feito nesse momento é se desculpar e seguir em frente.
Para o líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), a fala de Temer foi "imprevidente", mas o tucano a classificou também como premonitória. "Ele diz que o impeachment vai acontecer". Apesar do descuido do vice, Lima afirmou que o conteúdo do seu discurso é bom porque mostra horizontes para uma gestão capitaneada pelo peemedebista.
A votação do impeachment só está prevista para ocorrer neste domingo (17). No áudio, ao qual a reportagem teve acesso, Temer diz estar fazendo seu primeiro "pronunciamento à nação".
Ele diz que decidiu falar "agora, quando a Câmara dos Deputados decide por uma votação significativa declarar a autorização para a instauração de processo de impedimento contra a senhora presidente". O vice ainda afirma que estava recolhido "há mais de um mês para não aparentar que eu estaria cometendo algum ato, praticando algum gesto com vistas a ocupar o lugar da senhora presidente".
Setores da oposição, principalmente o PSDB, já costuraram apoio a Temer para, inclusive, participar de sua eventual gestão. Na semana passada, aliados do vice se reuniram com integrantes de partidos de oposição para alinhavar um discurso de defesa do impeachment. Temer, por sua vez, encontrou-se com deputados de diversas legendas, entre elas, PP, PR, PV, PTB e DEM.