Toda carne é fraca?
Rogério J. Lorenzetti*
Na semana que passou fomos surpreendidos por uma ação policial que impressionou pelo ineditismo e pelos resultados alcançados. Segundo notícias amplamente divulgadas pela imprensa nacional uma operação, denominada de "Carne Fraca", envolveu um aparato com mais de mil policiais em todo o Brasil com mais de trezentas conduções coercitivas e trinta prisões efetuadas.
Como desde jovem acompanho salas de abate e a fiscalização sanitária presente nestas (a maioria realizada por fiscais sanitários federais e seus prepostos), digo que continuo confiando no trabalho das indústrias de carne que são inspecionadas por veterinários e que têm o carimbo SIF nas peças produzidas. Consumo a carne produzida e seus derivados, sem nenhum receio de alguma peça estragada, desde que dentro do prazo de validade e submetida a refrigeração recomendada.
O exagero aliado ao pouco conhecimento técnico das pessoas que conduziram e divulgaram a operação produz um resultado desastroso para o Brasil. Um setor econômico muito importante (nossa cadeia produtiva de carnes responde pela formação de sete por cento do PIB nacional com a geração de milhões de empregos) foi duramente atingido e demorará anos para recuperar-se.
Não estou aqui defendendo nenhuma forma de impunidade contra malfeitores, pelo contrário, entendo que o setor, por envolver questões ligadas à saúde pública, deve ser muito bem fiscalizado e operacionalizado, oferecendo um produto de qualidade para o consumo humano.
Durante mais de quarenta anos de atividade profissional ligado à produção e abate de gado, nunca presenciei nenhum profissional do serviço de inspeção federal ou estadual abrir algum tipo de precedente que colocasse em risco a qualidade do produto que vistoriavam, pelo contrário, sempre muito rigorosos com aquilo que é de sua competência.
Portanto continuo consumindo a carne produzida pelas indústrias frigoríficas e os produtores brasileiros, sem nenhum tipo de preocupação. O que lamento é a conduta de alguns profissionais irresponsáveis que levaram a esta triste situação, cujos impactos serão sentidos em todo o país, com reflexos negativos principalmente nas cidades do interior, mais dependentes da produção agropecuária.
Não devemos sentenciar toda uma cadeia produtiva pela conduta de poucos, ou condenar milhares de estabelecimentos ligados à produção pecuária por algum erro feito por alguém buscando lucros indevidos, pois nem toda a "carne é fraca".
O fato de termos alcançado a posição de maior exportador de proteínas animais do mundo deve-se a milhares de bons profissionais e centenas de empresas bem conduzidas, sem as quais não teríamos conquistado esta condição.
*Rogério J. Lorenzetti, ex-prefeito de Paranavaí, período de 2009/2016
Obs.: O artigo é publicado aos domingos, mas excepcionalmente vai publicado nesta terça