Um poder exagerando
É natural e até necessário que os membros do Congresso Nacional ganhem bem. Afinal têm eles, senadores e deputados, missões das mais relevantes e atribuições compatíveis com o mandato que recebem do povo por determinação eleitoral.
Da mesma forma é importante que tenham bom assessoramento, gente capaz tecnicamente para lhes dar assistência permanente, ajudando-os no desempenho do mando popular, fazendo boa figura e mais que isso, influindo naturalmente em favor dos interesses populares e de Estado.
O que não se pode é exagerar. O senador circula no plenário menor, que abriga 81 integrantes, esbarrando diariamente com 6.400 funcionários. Conta com 34 diretores que estão prontos a auxiliar o representante dos Estados, subsidiando-os com pareceres e informações preciosas. Têm também à disposição a TV Senado, a Rádio Senado e a Agência Senado. É um apoio para ninguém botar defeito. Só não usa quem não quer ou não sabe, ou não liga, prefere o bloco do eu sozinho.
Os vizinhos de Câmara Federal, então, dispõem de 15.400 servidores, 27 diretores, a TV Câmara, a Radio Câmara e a Agência Câmara. Todos devem remar para o mesmo lado, mas preferem ter cada um dos legislativos a sua TV, a sua rádio, a sua agência. No caso da Câmara federal, ela é ocupada por 513 parlamentares. Câmara e Senado compõem o Parlamento.
Essas informações preciosas no seu conjunto estão na “Gazeta do Povo” de domingo, 9 de novembro. Os números foram fornecidos pelo jornalista André Gonçalves, correspondente da “Gazeta” em Brasília. É muita gente assessorando nossos parlamentares, no momento brigando entre eles para definir como será a direção de ambas as Casas em 2015.
Que mais podem os parlamentares, além do corriqueiro uso do correio e telefone. Na Câmara, dois vice-presidentes e quatro secretários da Mesa Diretora podem, cada um, indicar até 33 funcionários sem concurso. Os parlamentares têm direito a carro com motorista. Os que não integram da Mesa não dispõem dessas gentilezas, mas os suplentes, estes indicam 11 funcionários. Suplentes da Mesa, é bom frisar.
Os senadores também fazem suas indicações. Não tanto quanto o secretário da Mesa. Este feliz senador pode indicar até 141 não concursados. Pior para os demais integrantes da Mesa. Segundo o levantamento do jornalista da “Gazeta” só podem requisitar para até 125 também não concursados. Assim, o Congresso, que tem a alta finalidade de fiscalizar o Poder Executivo, trata primeiro de suprir o que seria necessidade de alguns privilegiados, sejam senadores ou deputados.
É bom lembrar do Palácio Tiradentes, no Rio de Janeiro, por exemplo. Ele serviu por anos de casa dos deputados federais. E quem não teve a oportunidade de vê-los em ação, pode lembrar da minissérie que a Rede Globo passou há alguns anos, nem tantos, onde aparecem, sentados, todos os parlamentares, lado a lado, no grande salão, o plenário, ouvindo o que tinham a dizer, pela oposição Carlos Lacerda, pela situação Vieira de Mello. Saudades.
*Ayrton Baptista, jornalista