UTI da Santa Casa opera com até 110% de sua capacidade
A Santa Casa de Paranavaí é o único hospital da região com UTI e os 10 leitos são insuficientes para atender uma população estimada em 300 mil habitantes.
“O recomendado é um leito de UTI para cada 10 mil habitantes. Na região atendida pela 14ª Regional da Saúde temos uma população de 300 mil habitantes. Assim o correto seria termos 30 leitos de UTI, mas temos só 10. Temos um déficit importante”, relata o médico intensivista Michel Luiz Spigolon Abrão, chefe da UTI e diretor técnico da Santa Casa.
Se quem está à espera de um leito de UTI vive momentos de grande ansiedade do lado de fora, do lado de dentro não é diferente. “Trabalhamos, na maior parte do tempo, com todos os leitos ocupados. Mas já chegamos a trabalhar com 110% de nossa capacidade, improvisando leitos para atender a demanda”, conta Michel.
Com a ajuda de um programa de computador, o intensivista revela alguns números da UTI da Santa Casa, Nos últimos dois anos passaram pela Unidade 873 pacientes.
As cinco principais causas que levaram os pacientes para a UTI foram, pela ordem, pneumonia comunitária (adquirida fora do ambiente hospitalar), trauma crânio encefálico (principalmente vítimas de acidentes com motocicleta), AVC isquêmico, infarto DPOC (Doença Pulmonar Obstrutivo Coronária) e insuficiência cardíaca. Os atendimentos são 85% pelo SUS, 7% através de convênios e 8% particular. A faixa etária de pacientes que mais ocupa leitos de UTI é de 70 a 79 anos.
Não é raro pacientes jovens ficarem a espera de um leito de UTI e um paciente com mais de 80 anos em estado terminal ocupar uma vaga. “Seguimos rigorosamente a ordem de chegada. Nossos leitos ficam à disposição da central de leitos. Às vezes temos conhecimento de jovens que estão no PA (Pronto Atendimento) a espera de uma vaga aqui, mas se a central agendou outro paciente, bem mais velho, é dele que será a vaga”, explica o médico.
Ainda sobre a faixa etária, constata-se que com os avanços da medicina, o surgimento de novos equipamentos e a descoberta de novas drogas a população está vivendo mais. “Mas este prolongamento da vida às vezes é artificial”, diz o intensivista.
UNIDADE SEMI-INTENSIVA – Os grandes hospitais têm seguido uma tendência de segmentação do atendimento intensivo. São as chamadas UTIs coronárias ou pós-operatórias, por exemplo. Mas em Paranavaí a UTI é geral (existe uma outra neo natal e pediátrica). E Michel Spigolon defende a instalação de uma unidade semi-intensiva, o que ajudaria desafogar a UTI.
Ele explica que, por vezes, um paciente ocupa uma vaga de UTI apenas por necessidade crônica de ventilação mecânica (respiração artificial) e não precisa, por exemplo, da assistência de um médico 24 horas por dia, como acontece na UTI. “Numa unidade semi-intensiva poderia ser atendidos os pacientes crônicos, especialmente os de mais idade”, explica o médico.
Na UTI geral da Santa Casa de Paranavaí atuam permanentemente um médico, uma enfermeira e dois técnicos de enfermagem para cada leito. Além disso, há o apoio de uma equipe multiprofissional, formada nutricionistas, assistentes sociais e fisioterapeutas.
Se houvesse a unidade semi-intensiva, muitos pacientes depois de estabilizados na UTI poderiam ser encaminhados a este serviço e permaneceriam com atendimento intensivo apenas os pacientes com os sistemas vitais em disfunção, risco de arritmia ou paradas cardíacas.
“A fase crítica demora em média quatro dias”, explica Michel. Mas na UTI da Santa Casa existem pacientes internados há 30, 40 e até 90 dias, o que facilita até casos de depressão. Em um caso excepcional tem um paciente às vésperas de completar um ano internado (veja matéria nesta página).
ALTA TECNOLOGIA – Se na UTI da Santa Casa há falta de leitos considerando a demanda, o serviço é de excelência, graças a equipe e aos equipamentos disponíveis. As escaras (irritação da pele por conta do longo tempo deitado) são raras surgir nos pacientes da unidade, o que mostra a eficiência da enfermaria (os pacientes são trocados de posição a cada duas horas.
Os banhos são feitos no próprio leito e os pacientes usam fraldas geriátricas, que devem ser providenciadas pelos familiares, já que o SUS não paga por elas).
O índice de letalidade está na casa dos 20%, considerado baixo levando em conta que todos os pacientes de UTI estão em estado grave. Um dos segredos para o índice de letalidade estar abaixo da média é o que Michel chama de acompanhamento horizontal, ou seja, durante o dia são sempre os mesmos médicos (ele e um colega).
Normalmente nas UTIs são adotados o sistema de plantão. Assim a cada dia a avaliação do paciente é feita por um médico diferente. “Com o acompanhamento horizontal eu e um colega fazemos diariamente a avaliação e isto evita o chamado telefone sem fio”, diz ele, referindo-se à transmissão de informações de um profissional para outro. Somente à noite os pacientes são atendidos por plantonistas.
Outro aliado dos pacientes da UTI são os equipamentos disponíveis. Os respiradores e aparelhos de monitoramento são os melhores disponíveis no mercado. “Recebemos recentemente colegas de Maringá e eles ficaram impressionados com a qualidade dos equipamentos. São de alta tecnologia. Poucas UTIs do Paraná têm os equipamentos que dispomos aqui”, garante o chefe da UTI.
Paciente está a quase um ano na UTI
Um paciente, de 24 anos, portador de uma neurodistrofia (uma doença degenerativa) está internado na UTI da Santa Casa há quase um ano. Ele foi internado no dia 2 de agosto do ano passado e, desde então, não deixou mais a unidade.
O médico intensivista Michel Luiz Spigolon Abrão conta que os músculos que auxiliam na respiração do paciente se degeneraram. “Ele não consegue mais respirar sozinho. Precisa de ajuda de aparelhos”, conta.
O paciente foi transferido para uma área que originalmente seria para isolamento. “Lá ele fica mais a vontade. E recebe visitas frequentemente, especialmente de sua mãe e irmã”, explica Michel. O paciente está consciente e já apresentou quadros de depressão pelo longo prazo de internamento.
Para aliviar a situação do rapaz, Michel autorizou que fosse aberto no quarto o sinal de internet. “Assim ele pode usar um computador pessoal e se distrair um pouco”, revela o médico. O quadro do paciente é irreversível.
“Este é um caso de home care (assistência domiciliar), mas ainda não temos este serviço”, lamenta Michel. Mas por uma questão humanitária o médico encaminhou ao Governo do Estado pedido de um respirador artificial para ser instalado na casa do paciente. “A mãe e a irmã dele já estão aprendendo com nossa equipe a operar o equipamento. Se der certo, ele vai pra casa. Isto vai melhorar a qualidade de vida dele”, diz ele.
Unidade Morumbi vai reduzir em 50% o déficit de leitos de UTI
De acordo com o preconizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) a região deveria ter 30 leitos de UTI. Tem apenas 10. O déficit de 20 leitos deverá ser reduzido em 50% quando estiver concluída a Unidade Morumbi (antigo Hospital Noroeste) da Santa Casa. Lá serão instalados mais 10 leitos de UTI.
As obras para a conclusão do hospital no Jardim Morumbi já foram iniciadas. O Governo do Estado vai investir R$ 9 milhões e a Santa Casa outros R$ 500 mil. Serão 110 leitos hospitalares e mais 10 de UTI, além de bloco cirúrgico, unidade de imagem e serviços de apoio.
Com a parceria da iniciativa privada, está prevista também unidade de hemodinâmica e cardiologia, inclusive com cirurgia. Outro serviço que deverá ser ofertado na nova unidade é o de oncologia.
A nova unidade hospitalar também será passo importante para a instalação de uma Faculdade de Medicina em Paranavaí.