Vaticano suspende jornalista que vazou encíclica do papa Francisco
SÃO PAULO (FOLHAPRESS) – O Vaticano suspendeu as credenciais do jornalista Sandro Magister, correspondente da revista "L’Espresso" supostamente responsável pelo vazamento de uma encíclica do papa Francisco sobre questões ambientais.
A suspensão do correspondente foi anunciada pelo porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, em uma comunicado que classifica o vazamento da encíclica como "uma iniciativa incorreta, fonte de forte desconforto para muitos colegas jornalistas".
"Comunico [a Magister] que a sua credencial para a nossa Sala de Imprensa ficará suspensa por tempo indeterminado a partir de amanhã", afirma o comunicado.
Magister disse à Associated Press não ser responsável pelo vazamento da encíclica, a qual teria sido obtida e publicada por seu editor.
Na segunda-feira, a "L’Espresso" havia publicado em seu website as 191 páginas do documento batizado de "Laudato Si" ("Louvado sejas", em italiano medieval) -segundo o Vaticano, trata-se de um rascunho da encíclica de Francisco.
A encíclica, que será oficialmente divulgada amanhã, faz um ataque contundente à forma como as nações, sobretudo as mais ricas, lidam com a questão ambiental.
No texto, o pontífice condena a inação internacional diante da mudança climática e argumenta que a humanidade não tem direito de destruir outros seres vivos.
O último grande caso de vazamento de documentos do Vaticano, em 2012, levou o mordomo do papa Bento 16 a julgamento por roubar documentos pessoais e por repassá-los a um jornalista italiano. Ele chegou a ser condenado, mas posteriormente foi perdoado pelo pontífice emérito.
Após o escândalo, conhecido como "Vatileaks", o Vaticano atualizou o seu código penal, incluindo pena de dois anos de prisão e multa de 5.000 euros (cerca de R$ 17 mil) para quem vazar documentos. Não está claro se essa punição será aplicada para Magister.
HERDEIRO DE BENTO – É raro que se apontem semelhanças entre Francisco e seu cerebral predecessor, o alemão Bento 16, mas o ponto mais surpreendente da encíclica talvez seja a retomada de temas centrais do magistério do papa que renunciou.
Francisco atribui parte da crise ambiental à prevalência do relativismo moral e filosófico -à ideia de que não existem certos e errados "naturais" e que, portanto, o ser humano teria liberdade absoluta para fazer o que quiser consigo e com o mundo.
Para ambos os pontífices, essa é uma ideia desastrosa, por não levar em conta os limites impostos pela natureza -e pela sabedoria divina- aos desejos humanos.
"A encíclica pode ser resumida à frase ‘tudo está conectado’", diz Rodrigo Coppe Caldeira, especialista em história do catolicismo da PUC-MG. "O papa aponta a hipocrisia de tratar dos problemas ecológicos sem considerar, por exemplo, os pobres ou os embriões descartados."
Apesar de ressaltar que não cabe à Igreja Católica tomar partido em debates científicos ou políticos, mas sim fomentar o diálogo, o papa argentino assinala que, nos debates diplomáticos sobre a mudança climática, as nações pobres não podem ser penalizadas economicamente por um problema que deriva, em grande parte, da poluição gerada em países ricos.
"Trata-se talvez do primeiro pronunciamento de uma autoridade internacional que admite não haver saída a não ser a aceitação de algum ‘decrescimento’ pelas sociedades de superabundância em favor do avanço dos mais vulneráveis", diz o ex-ministro do Meio Ambiente Rubens Ricupero. "Soará utópico; prefiro dizer que é ‘profético’."
A suspensão do correspondente foi anunciada pelo porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, em uma comunicado que classifica o vazamento da encíclica como "uma iniciativa incorreta, fonte de forte desconforto para muitos colegas jornalistas".
"Comunico [a Magister] que a sua credencial para a nossa Sala de Imprensa ficará suspensa por tempo indeterminado a partir de amanhã", afirma o comunicado.
Magister disse à Associated Press não ser responsável pelo vazamento da encíclica, a qual teria sido obtida e publicada por seu editor.
Na segunda-feira, a "L’Espresso" havia publicado em seu website as 191 páginas do documento batizado de "Laudato Si" ("Louvado sejas", em italiano medieval) -segundo o Vaticano, trata-se de um rascunho da encíclica de Francisco.
A encíclica, que será oficialmente divulgada amanhã, faz um ataque contundente à forma como as nações, sobretudo as mais ricas, lidam com a questão ambiental.
No texto, o pontífice condena a inação internacional diante da mudança climática e argumenta que a humanidade não tem direito de destruir outros seres vivos.
O último grande caso de vazamento de documentos do Vaticano, em 2012, levou o mordomo do papa Bento 16 a julgamento por roubar documentos pessoais e por repassá-los a um jornalista italiano. Ele chegou a ser condenado, mas posteriormente foi perdoado pelo pontífice emérito.
Após o escândalo, conhecido como "Vatileaks", o Vaticano atualizou o seu código penal, incluindo pena de dois anos de prisão e multa de 5.000 euros (cerca de R$ 17 mil) para quem vazar documentos. Não está claro se essa punição será aplicada para Magister.
HERDEIRO DE BENTO – É raro que se apontem semelhanças entre Francisco e seu cerebral predecessor, o alemão Bento 16, mas o ponto mais surpreendente da encíclica talvez seja a retomada de temas centrais do magistério do papa que renunciou.
Francisco atribui parte da crise ambiental à prevalência do relativismo moral e filosófico -à ideia de que não existem certos e errados "naturais" e que, portanto, o ser humano teria liberdade absoluta para fazer o que quiser consigo e com o mundo.
Para ambos os pontífices, essa é uma ideia desastrosa, por não levar em conta os limites impostos pela natureza -e pela sabedoria divina- aos desejos humanos.
"A encíclica pode ser resumida à frase ‘tudo está conectado’", diz Rodrigo Coppe Caldeira, especialista em história do catolicismo da PUC-MG. "O papa aponta a hipocrisia de tratar dos problemas ecológicos sem considerar, por exemplo, os pobres ou os embriões descartados."
Apesar de ressaltar que não cabe à Igreja Católica tomar partido em debates científicos ou políticos, mas sim fomentar o diálogo, o papa argentino assinala que, nos debates diplomáticos sobre a mudança climática, as nações pobres não podem ser penalizadas economicamente por um problema que deriva, em grande parte, da poluição gerada em países ricos.
"Trata-se talvez do primeiro pronunciamento de uma autoridade internacional que admite não haver saída a não ser a aceitação de algum ‘decrescimento’ pelas sociedades de superabundância em favor do avanço dos mais vulneráveis", diz o ex-ministro do Meio Ambiente Rubens Ricupero. "Soará utópico; prefiro dizer que é ‘profético’."