VIAGEM MISSIONÁRIA…

Veias abertas na Floresta Amazônica, a BR-163 e a Transamazônica, o Tapajós corre como sangue que rega as cidades que vão surgindo nas suas margens, formadas de imigrantes de todas as partes do Brasil, mas uma grande parte de Maranhenses.
As levas de aventureiros que vieram para o Pará no ciclo dos seringueiros, depois nos garimpos em busca de bamburrar e fazer riqueza e se estabelecer após longas e tristes aventuras. Outros penetraram nas matas às vezes ainda intocadas em assentamentos organizados após longa luta.
Escutamos muito no sul que a Amazônia é o pulmão do mundo, mas quando nos deparamos com a exuberância da floresta aqui no Pará, onde ainda reina soberana as Castanheiras e os Açaizeiros que dão o sabor que envolve o paraense, a farinha amarela é parte integrante da alimentação. A variedade de frutos enche os olhos do visitante, onde os sucos ganham diversos sabores.
E o cupuaçu, está por toda parte, murici, araçã, oxi, ata, none taperebá. O peixe é também parte integrante da alimentação com toda a variedade deles.
As histórias de onças pintadas, vermelhas, pretas que rondam por perto são muito comuns. A jiboia que está presente enche de fatos narrados, onde ela se enrolou com animais e o arrastou.
O despertar num assentamento foi pelo som do “Capelão” (macaco bugio), como que dizendo, isto aqui me pertence. No Igarapé se lava a louça, roupa e se toma banho, foi o que eu fiz.
As iniciativas agora aqui, é a entrada da soja do Mato Grosso que pela Transamazônica chega em caminhões em Miritituba, do outro lado do rio. Onde já foram construídos silos e porto. Pelo Tapajós em barcaças navegam até Santarém.
Os projetos de represas no Rio Tapajós, caso se realizem (como está sendo planejado) prejudicaria ribeirinhos, indígenas e cidades e por isso já geram protestos.
Estamos em Itaituba, Pará onde Dom Frei Wilmar Santin é bispo. A Prelazia é composta de tribos indígenas, principalmente, os Mundurukus.
É neste ambiente do Pará e de toda a Amazônia que a Igreja reflete: “Que Jesus armou sua Tenda na Amazônia”. O desafio de uma Igreja missionária, de uma Igreja em “Saída” para anunciar o Evangelho.
Estive em Itaituba, Pará por um mês. Participei do retiro missionário, onde se reuniram umas 400 pessoas, vindas das várias comunidades da Prelazia (uma de mais ou menos 600 km de distância).
Depois começaria as visitas às comunidades da área pastoral Tapajós. As chuvas foram abundantes e por isso as estradas estavam quase intransitáveis. Na primeira visita além das subidas e descidas com muito barro, a ladeira “Chicona” impediu a nossa chegada, um caminhão no meio do caminho, pôs fim a nossa viagem. Na semana seguinte, que era a Semana Santa, fomos para o Assentamento São Benedito e São Jerônimo (depois de um verdadeiro rali na lama, isto no Domingo de Ramos). Na quinta-feira, sexta, sábado e domingo visitamos outras comunidades, onde celebrei a Páscoa. Tendo também como desafio, subidas, “subideiras” e descidas, “descideiras” no barro.
A mata era para nós um encantamento só. As celebrações foram muito boas, com o povo animado com a presença do padre e da irmã (Irmã Creuza, Carmelita missionária da Divina Providência). O desafio missionário é muito grande, pela ausência de padres nestes locais e por isso os evangélicos aproveitam. A esperança é mesmo os leigos que assumem com coragem a missão, para não esmorecer na fé.
Fizemos algumas visitas nos sítios, e nos “arruados” onde abençoamos as casas. Em algumas casas encontrei o sinal da passagem dos missionários carmelitas (do ano passado) onde deixaram um escapulário grande de pano. Nestas visitas a curiosidade pela variedade de frutas. Muitos ficam durante a semana na roça e no final de semana vêm para Itaituba, onde têm uma casa.
A evangelização, o pastoreio da região amazônica passam necessariamente, pela solidariedade com indígenas, ribeirinhos, migrantes, quilombolas e os habitantes que sofrem nos centros urbanos, bem como pelo respeito ao meio ambiente. Numa dessas visitas, estendi a minha rede, nos ganchos que já estão presentes nas casas, e me estiquei todo para dormir, como é o costume do sertanejo. O pulmão do Brasil (e do mundo) pulsa forte dando-nos respiração. O documento do episcopado da Amazônia: “A Igreja se faz Carne e arma tenda na Amazônia” (1997) afirma: “Estreitamos nossa comunhão com todas as Igrejas no Brasil, comunicando-lhes as riquezas de nossa caminhada. Ao mesmo tempo, reiteramos nosso apelo aos outros regionais para que venham em socorro à Igreja na Amazônia pelos seus desafios pastorais pela sua extensão e importância, no cenário mundial”. Nº 14 “Missionários para a Amazônia”. Os grandes projetos de hidroelétricas favorecem basicamente o sul e os prejudicados são os nordestinos. A Igreja é missionária, “De Saída" assim nasce também a obrigação com a Igreja da Amazônia.

Frei Filomeno dos Santos O. Carm.