Videira foi sede do 14º Encontro da Família Bogoni
A cidade de Videira (4ª melhor cidade do País para se viver, no ranking da Austin Rafting), no Vale do Rio do Peixe, em Santa Catarina, sediou no último fim de semana (dias 10 e 11 de outubro) o 14º Encontro da Família Bogoni e Descendentes para um congraçamento anual e comemorar os 124 anos de imigração.
O pavilhão da Igreja Matriz Imaculada Conceição, centro do eixo cultural da cidade, construída entre1940 e 1947 em estilo romântico barroco, foi o local escolhido para celebrar a memória e o heroísmo dos antepassados que vieram da Itália e desbravaram regiões totalmente desabitadas.
A programação contou com recepção, ceia com o tradicional filó e brodo no sábado, e inscrições, café da manhã, santa missa concelebrada pelos freis Lauro Spohr (vigário local) e Sylvio de Giocondo Bogoni Dallagnol, autor de várias obras sobre a família, seguindo-se o almoço com cantorias e apresentações artísticas, além de visita ao Museu do Vinho Mário de Pellegrin, a Praça do Coreto e a Biblioteca Municipal Euclides da Cunha. Foi também escolhida a próxima sede do encontro, que será em 15 e 16 de outubro de 2016 em Concórdia-SC. Durante a missa Mário Bogoni apresentou um resumo histórico da família. Participaram perto de 400 membros da família de várias partes do Brasil. Os mais distantes vieram de Sorriso-MT. Do exterior vieram de Lummen-Bélgica, Vanda Bogoni Rizzardi e seu noivo Philip Cupers. Os italianos, que participaram do evento no ano passado, não vieram devido à antecipação da colheita da uva provocada por alterações climáticas e está em plena safra. Ivo Bogoni foi o apresentador.
HISTÓRIA DA FAMILIA BOGONI
A história da Família Bogoni remonta ao século IV. Os Bogoni viviam na região da Sarmácia, sudoeste da Rússia, e eram de origem judia. A partir do século V com as tribos bárbaras chefiadas por Alarico ocuparam Verona e se estabeleceram na região de Sarmazza, perto de Monte Forte D´Alpone, na Itália. Depois Alboíno Longobardo trouxe para a região outros bárbaros bélicos e também ali se fixaram. Chamavam-se Borkovich, depois Burgundoni e depois Bogoni, que significa “pequeno caramujo”. Espalham-se hoje por quase 50 países com alterações sonoras e gráficas como Bagoni, Bugoni, Bugnoni…
O costume do uso do sobrenome começou na época das cruzadas, causa Santa da Cristandade, bem como o do brasão, que distinguia as famílias pelas suas virtudes que passavam de pai para filho. “O fim dos feudos fez os nobres se popularizarem, porém seu sangue ainda e sempre será exemplo de cavalheirismo, elegância de costumes, amor às artes. Na guerra heroicos, na paz justos”, observa frei Sylvio. E acrescenta: “A estirpe floresceu em Verona – clérigos, embaixadores, cônsules, duques, juízes, prefeitos, doges – e sua honestidade e equilíbrio de governo os fez granjear a estima dos súditos e a confiança dos reis”.
Na dominação de Césare Bórgia, na Romagna, os Bogoni apoiaram Catarina Sforza, do feudo de Ímola. Refugiaram-se em Bologna e foram acolhidos pela família Bentivoglia. Na Lombardia, no séc XIV, eram porta-bandeiras de régio e tinham feudos em Busano e Cova com o duque Césare d´Este. No fim do séc. XIV a Casata Bogoni foi célebre nas armas, nas artes, nas ciências, nas letras e nos governos. No Vêneto foram benquistos pelos doges e nomeados a diversas embaixadas.
Atualmente centenas espalham-se por diversas cidades da Itália, especialmente no Norte. Em Gênova residem cerca de 50 famílias Bogoni e se dedicam exclusivamente à produção de vinho branco, sob o rótulo “Adega Bogonni”.
“São famílias calmas e afetivas” que têm por lema “Chi va piano, va sano e va lontano” (devagar, com saúde e seguindo em frente), como observa frei Sylvio num dos seus trabalhos, “Amor é Vida”.
HISTÓRIA DA IMIGRAÇÃO DA FAMÍLIA BOGONI
A história da imigração para o Brasil começa com os primos Giocondo di Francesco e Giuseppe Bogoni, com as respectivas famílias. Viviam em Monte Martre D´Alpone – Verona. Giocondo di Francesco, casado com Domênica Prá ou Daprando tinha cinco filhos: Luigi (1874), Palma (1879), Emílio (1880), Rosina (1881) e Virgínia (1882) (no Brasil teve mais quatro). Giuseppe, casado com Maria Rizzeto em 1885 tinha uma filha – Hermínia (1891). No Brasil mais oito: Roberto, Arthur, Angelo, Palmira, Assunta, Alberto, Ernesto e Emma.
Na Itália viveram a juventude no trabalho dos vinhedos.
Em fins do século XIX, devido ao agravamento da crise econômica italiana e atraídos pela oferta de governos brasileiros, que fizeram campanha para atrair mão de obra para substituir os negros libertos com a abolição da escravatura em 1888, com a promessa de uma terra cheia de oportunidades partiram de Monte Martre D´Alpone de trem rumo a Gênova, onde embarcaram em um navio de imigrantes em 15 de agosto de 1891. Chegaram ao Rio de Janeiro em 24 de setembro de 1891, permanecendo ali seis dias, hospedados na Ilha das Flores, até embarcarem em outro navio menor rumo a Montevidéu (Uruguai) e Buenos Aires (Argentina). Na parada no porto de Rio Grande-RS, onde chegaram em 15 de outubro, dois meses após a partida da Itália, desembarcaram e, num barco menor, seguiram até Porto Alegre-RS, onde ficaram na Hospedagem Charqueadas. Alguns dias depois seguiram em frente em outro barco menor até a cidade de Montenegro e de lá em carroças, lombo de burro ou a pé até à Hospedagem dos Bugres, em Caxias do Sul. Após algumas semanas seguiram à procura de um lugar definitivo, e se instalaram na localidade conhecida como Linha Quarenta de La Cândida, hoje município de Antonio Prado-RS, uma das cidades tombadas como patrimônio histórico da humanidade pela ONU. Giuseppe foi contemplado com o lote 21 na Linha 2 de Julho, com área de 325.250 m² e Giocondo com o lote 39 na Linha da Guerra, com área de 250.500 m², no então distrito de Antonio Prado-RS, segundo relato do bisneto Emir José Masiero ouvido do avô Higiene Bogoni Masiero.
Ali estava tudo por fazer, pois nada lá havia, apenas mata virgem, porém, com trabalho árduo, coragem e fé em Deus venceram os desafios e prosperaram.
Cerca de 30 anos depois de chegados ao Brasil os filhos se espalharam por outras regiões, pois as terras adquiridas na chegada – cerca de 20 hectares, já não eram mais suficientes para o sustento de todos. Seguiram então para Sananduva, Bom Conselho, Nova Bassano, Paim Filho, Tapejara, entre outros, no Rio Grande do Sul. Mais tarde outros seguiram para várias cidades de Santa Catarina, como Videira, Concórdia, Chapecó, Joaçaba. Outros seguiram depois para o Paraná e outros Estados.
No início da década de 20, Emílio Bogoni transferiu-se para Videira com sua esposa Maria Rizzardi Bogoni e oito filhos (e mais oito das primeiras núpcias com Catarina Pesavento, falecida ainda em terras gaúchas, num total de 16 filhos). Alguns filhos permaneceram em Videira, porém outros seguiram viagem, instalando-se em diversas cidades brasileiras.
A FAMILIA BOGONI DE PARANAVAÍ
Os Bogoni de Paranavaí são trinetos de Valenciana e Pietro Bogoni; bisnetos de Giocondo di Francesco Bogoni (Sarmazza-Monte Martre D´Alpone-Itália 10/08/1850-Lajeado Pepino-Paim Filho-RS 25/11/1939 – 89 anos) e de Domênica Prá ou Daprando (Sarmazza-Monte Martre D´Alpone-Itália 15/06/1857-Lajeado Pepino-Paim Filho-RS 25/10/1931 – 74 anos) e netos de Emílio Bogoni. Giocondo era filho de Valenciana e Pietro Bogoni. Domênica era neta de Domitila Tregnago e Bortolo Prá e Catta Grandenotto e Giuseppe Berton, e filha de Páscoa Berton (10/06/1814) e Girolamo Prá (15/04/1813).
Já no Brasil, Emílio casou-se com Catarina Pesavento e teve os filhos Barbarina, João, Vitório, Brígida, Angelo, Maria, José e Angelina. Viúvo, Emílio casou-se em segundas núpcias com Maria Rizzardi e teve mais os filhos Antonio, Aldemira, Carmelinda, Luiz, Luíza, Pierina, Catarina e Helena (dos quais as três últimas e Catarina participaram do encontro em Videira, sendo os demais falecidos).
Ângelo (Antonio Prado-RS 21/01/1911-Paranavaí 12/05/1998), filho do primeiro casamento de Emílio, casou-se com Maria Miglioranza (Antonio Prado 06/04/1913-Paranavaí 18/12/2006) e tiveram os filhos Euclides, Zelindo Antonio (in memoriam), Geraldo, Edir, Inês Lourdes, Therezinha, Saul e Romeu Luiz, que geraram até o presente 12 netos, 15 bisnetos, 11 trinetos e 2 tetranetos.
Já com seis filhos Angelo deixou Videira e seguiu para Joaçaba, aumentando a família com mais dois filhos e onde produzia uva, vinho, salame e queijo, que vendia nas cidades da linha Pato Branco, Cascavel, Campo Mourão, Maringá, Alto Paraná e Paranavaí. Em 1950 transferiu-se com a família para Alto Paraná, onde instalou uma loja de secos e molhados, e dois anos depois a Paranavaí, onde foi loteador do Bairro Santos Dumont e cafeicultor.
(Fotos: Cléber Renato, Dalvana e Saul)